quinta-feira, 16 de abril de 2009

Síndrome da Rotina da Fé


Tenho notado em alguns irmãos e irmãs uma característica que acredito ser o verdadeiro mal desse século. Um corpo estranho que veio desnutrir totalmente o povo de Deus e deixá-lo completamente desarmado diante das adversidades e das tentações. Esse mal eu estou chamando de “Síndrome da Rotina da Fé”.


Isso mesmo: rotina! Muitos de nós não sentimos mais o paladar das Escrituras, o gosto que ela dá à vida e às conquistas que ela mesma promete. Parece que tudo não passa de uma história bonita contada por gente talentosa e escrita por verdadeiros gênios da literatura. Contos e fábulas fantásticas que podem ser usados como inspiração de vida, mas nunca uma regra para vida toda. Ou comparar as promessas da Bíblia com as promessas de políticos; ouvimos muitas delas, mas nenhuma parece se cumprir de fato!


Há um sentimento de nostalgia no ar. Sempre o que era o melhor acontecia no passado. As pessoas, vítimas dessa síndrome, não conseguem viver o presente, não conseguem captar as coisas maravilhosas que estão acontecendo na vida pessoal, familiar e até mesmo sentimental. Estão presas no ontem e nunca vêem ou nunca sonham com alguma coisa melhor. Encaram a maturidade cristã de uma forma tão rasa que parece um morticínio, um genocídio de todo e qualquer conceito de graça. Amadurecem, mas não frutificam. Amadurecem, mas o sabor que eles têm é amargo e quase que apodrecido. Amadurecem, mas a vida perdeu a graça. E como resultado fatídico, eles acabam sentindo saudades de quando eram crianças. Sonhavam e brincavam de uma forma tão mágica como se tudo aquilo fosse real. Os relacionamentos eram mais sinceros e muito mais profundos.


É como a história de dois meninos que crescem juntos e são amigos desde que eles se dão por gente. Brigam por alguma razão e em um momento qualquer, mas logo em seguida eles se levantam e começam a brincar novamente. São características peculiares em crianças, em seres humanos que custam em acreditar que o seu amiguinho seja um inimigo mortal que um dia pode arruinar suas vidas por completo. Para elas, foi só uma briguinha besta que servirá depois para dar muita risada quando for contá-la pra alguém.


Conforme o tempo passa, esse intervalo que transforma o amigo em inimigo, que no máximo duraria um período do dia, agora aumenta e se torna dias, meses e até anos. A gente cresce e junto com esse crescimento vem uma maturidade total e essencialmente questionável. Como explicar que uma criança, dependente de tudo e de todos, vive melhor e com mais simplicidade que um adulto independente e dono do seu nariz?


Conforme o tempo passa, as pessoas que antes sentiam prazer em ir à igreja, agora sentem um peso ou até mesmo uma chatice ficar sentadas naquele banco, que na grande maioria é de madeira, e ficar ouvindo um sermão que, também na sua grande maioria, já ouviram. Parece que os pastores gostam de pregar nos mesmos textos e retirar deles somente os mesmos valores, e aí ficamos a ouvir o sermão acerca do filho pródigo uma centena de vezes. Daí vem a pergunta que pode nortear algumas mentes: “Será que não há mais nada para ouvir e aprender? Será que a Bíblia parou por aí?”. Vive uma letargia espiritual e não conseguem crescer por suas próprias experiências diárias com a Escritura. Daí coloca a culpa nos outros, ficando muito mais fácil de lidar com o problema que, na verdade, pertence somente e tão somente à pessoa. Projetamos o nosso problema de identidade e as crises existenciais que temos em outras pessoas, de preferência no pastor ou no conselho.


Podemos chegar à seguinte conclusão: o problema não está na igreja, não está nos cânticos, não está no pastor, não está nos jovens; o problema está em nós mesmos! Quando tudo parece monótono, quando tudo parece estar na mesma, no mínimo a gente deveria olhar primeiro para quem deveria estar melhor a cada dia; nós mesmos! Se pregamos que Cristo veio para que tenhamos vida, e a tenhamos em abundância, e não conseguimos viver plenamente, não conseguimos rir de coisas bobas, não conseguimos ter fome de viver, fome de vida, alguma coisa está errada. Algo está fora de controle!


Não estou dizendo aqui que não teremos aqueles conhecidíssimos dias em que nós nem suportamos o nosso próprio cheiro. Estou me referindo a todos os dias, de segunda a segunda, toda semana, todo mês, todo ano sem nenhuma história atual pra contar. Estou me referindo a uma vida estática, inerte espiritualmente. E se alguém estiver sentindo assim sempre, precisa urgentemente rever os conceitos de igreja e de vida cristã.


Costumo dizer que há uma faixa etária para entrar no céu. Isso mesmo, uma faixa etária, uma idade certa para que você entre no céu. Há um texto no Novo Testamento, no evangelho segundo São Mateus no capítulo 18 e no verso primeiro em diante, onde Jesus mostra para Seus discípulos que para entrar no reino dos céus, precisamos nos converter e nos tornarmos como crianças. Se não agirmos como esses seres belíssimos e de tanta vitalidade, seremos como palha levada pelo vento e que não possui nenhuma serventia senão jogá-la no fogo para ser queimada.
Há uma urgência no que concerne ao que Brennan Manning, autor de “O Evangelho Maltrapilho”, chama de “segundo chamado”. Segunda experiência de convívio com o Eterno, segunda oportunidade de crescer na fé e de ver que as coisas na vida nem sempre tem que encaixar em tudo que a gente acha. Tem gente que não entende que Deus age como Ele quiser, onde Ele quiser e usa quem Ele quiser.


Na síndrome da rotina da fé, a idade e o tempo de igreja parecem valer mais que tudo, até mais que a própria salvação. Eu admiro aqueles que já batalharam grandes lutas na vida, já se decepcionaram muitas vezes, já se viram inúteis em meio a tantos “semideuses” cristãos, mas continuaram a caminhada, continuaram a olhar para os olhos doces e firmes do Redentor e, mesmo que porventura caíssem e pecassem, a vontade de viver uma vida de significado era muito mais forte e fazia seus corações arderem de paixão pelo Doador da graça e os faziam prosseguir até chegar nos braços do Pai e, finalmente, descansar em paz.

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