quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Palhaços, Mendigos e Falsos Profetas


Já na antiga Grécia se falava sobre essas figuras patéticas. Platão, no seu livro A República, os chamava de “mendigos e adivinhos”, gente que manipulava a fé dos gregos nos deuses para fins lucrativos, e ao mesmo tempo a própria população grega os usava para tentar ludibriar ou subornar os deuses com oferendas e sacrifícios. Creio ser de uma indelicadeza de Platão chamar gente tão mesquinha de “mendigos”. Talvez ele tenha pensado que eles estavam “mendigando” honrarias e prêmios.

O tempo passa, o mundo sofre transformações gigantescas, mas percebe-se que o homem continua o mesmo. Suas carências, necessidades e desejos estão presentes em todas as eras e impérios; e junto disso aparecem em cena os famosos aproveitadores que tentam, com algum sucesso, manipular corações atribulados com o fim de glorificar apenas um deus: eles mesmos. Há líderes religiosos na televisão e na rádio, tanto na nossa região como no nosso país e no mundo que dizem servir a Deus, mas são amantes das riquezas. Sua aliança não é com a Cruz, é com o seu e o meu bolso. Enquanto você compra as toalhinhas da cura, recebe os abraços da prosperidade, paga os horários caríssimos do canal de televisão, você é boa gente; se não, você está em pecado e muito provavelmente não tem fé e, portanto não tem a benção de Deus. Ah, faça-me o favor!

Gente desse porte Jesus chama de “falso profeta”. Tudo que eles dizem Deus não mandou dizer. Tudo o que eles profetizam Deus não profetizou. Tudo o que eles pedem Deus não pediu. Tudo o que eles manipulam Deus vai prestar contas. Outro nome dado a eles é de “sepulcros caiados”, ou seja, túmulos bonitos e bem ornamentados por fora, mas por dentro só carregam mau cheiro, carne podre e morte. Se não há vida nesses “profetas”, como podem falar sobre a vida? Como podem ensinar a viver? O que eles ensinam são morte e desesperança. Nada do que podemos fazer, dizem eles, pode acalmar o coração de Deus. Por isso a necessidade de sempre “ofertar” a Deus nosso dinheiro, posses, riquezas, coisas e nunca o coração. Para esses ladrões da alegria e da fé, o coração não basta. Entendam isso: nada do que podemos fazer, ou para mais ou para menos, fará Deus nos amar mais ou menos. Ele nos ama pelo que somos, e não pelo que podemos fazer por Ele ou para Ele. Os manipuladores existem porque tem gente que insiste em manipular a Deus.

Mas ainda restam aqueles que não seguem essa maré. São artistas, palhaços e andarilhos que não se vendem e não compram escravos. Pelo contrário, por onde passam causam um fantástico reboliço na vida da gente trazendo alegria e a experiência da verdadeira liberdade. Palhaços nos avisam todos os dias: “Como a graça de Deus nos faz felizes e seres humanos melhores”. Andarilhos nos lembram como é importante amar as pessoas e usar as coisas e não amar as coisas e usar as pessoas. Os artistas nos fazem imaginar pessoas vivendo em paz, sem disputas religiosas e de poder e nos fazem acreditar que dias melhores ainda podem vir. Esse tipo de gente Deus tem amizade e intimidade. Escutem o que eles têm pra dizer, pode ser que o próprio Deus esteja querendo aumentar o número de amigos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Uma Nova Utopia, Um Convite Urgente


Todo mundo um dia teve vontade de jogar tudo para o alto e recomeçar a vida, mas faltou coragem. Sentia que o casamento não ia bem, os negócios sempre na corda bamba e a gente com a corda no pescoço. O marasmo da vida, a rotina, o mesmismo, todos esses nomes nos assustam e com razão. Lemos os livros de aventuras ou assistimos aos filmes desses livros e sonhamos em ser os aventureiros, os heróis dessas histórias e no final de tudo perguntamos: “Por que isso não acontece comigo?”.

O Cristianismo verdadeiro tem uma proposta que satisfaz esse desejo de todo ser humano que é o desejo de encontrar valor na vida, mais especificamente o seu próprio valor. Mas dentro dessa verdade não se encontra valor próprio sem o outro; sempre o outro tem algo para nos acrescentar. Agora, com isso em mente, precisa-se entender que existe O Outro, ou Aquele que sem o qual não existiria nenhum outro ou nenhuma outra. Ou seja, sem a fonte de tudo o que se conhece e não se conhece nada do que foi feito seria de fato feito.

Cristo é esse Outro que não cabe apenas em idéias e conceitos religiosos. Não cabe em dogmas ou doutrinas. Cristo é revelado em pessoas à Sua imagem e semelhança. A conversão é o movimento do coração e da mente que entende que não somos donos dos nossos narizes, como se diz, mas somos cooperadores, filhos, amigos e dependentes do Outro e de outros também. Alguém que se converte começa a ter a capacidade de encontrar os atributos de Deus em todas as áreas da vida como as artes, entretenimento, esportes e tantos outros. É o início de uma percepção mais santa, mais apurada e divertida.

De fato, o novo assusta. Não estou falando de uma nova religião, mas de uma nova maneira de ver e de viver a vida. Além de assustar, o novo causa preguiça. A gente não quer mudar de vida porque do jeito que está, mesmo sendo a mais chata das situações, todo mundo está assim. Então, pra que mexer com quem está quieto? É cômodo. Mas se isso fosse verdade o racismo continuaria forte nos Estados Unidos, a ditadura e a escravidão ainda reinariam no Brasil e não teríamos nenhuma história bacana pra contar para nossos filhos e netos.

A verdadeira mensagem de Cristo é uma utopia possível. Utopia por ser considerada louca, revolucionária e impossível aos olhos do homem, mas possível porque quem realiza a revolução é Aquele que faz homens considerados poderosos demais se ajoelharem e aqueles que estão de joelhos permanecerem como estão. Ser o novo é fazer o contrário possível.

A maior contradição da história foi personificada em Cristo. Deus que se faz homem ensinando o homem a ser mais humano. E ao fazer isso, o homem de torna mais divino, portanto mais próximo de Deus e cumprindo seu papel de ser Sua imagem e semelhança.

Há duas maneiras de viver a mesma coisa: jogue tudo para o alto como um sinal de desistência e de completo desejo de anarquia e desorganização da vida ou faça a mesma coisa, mas com um desejo apaixonado de reorganizar sua vida e também como um ato sincero de reconhecimento Àquele que faz novas todas as coisas.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um Lugar para se Acreditar


Por que se despedir é tão difícil? A impressão que se tem é que todos os pecados são redimidos e perdoados; tudo é facilmente esquecido e as qualidades ficam mais evidentes. Dizer adeus a alguém querido não das mais fáceis tarefas que a vida nos obriga fazer, mas poucos; diria raros são aqueles que conseguem se preparar para esse momento. E para aqueles que não conseguem? E para aqueles que são surpreendidos com aquela notícia que todo mundo tem medo de ouvir e de falar? É... não é fácil dizer adeus.

O céu está reservado para aqueles que insistem em se manter na teimosia de acreditar que as coisas podem melhorar e que Deus sabe o que faz. Ainda que soe como clichê ( e eu detesto clichês), essa coisa de dizer: “Deus sabe o que faz” soa mais como um grito de esperança da alma, é algo em que ela pode se apegar, mesmo que às cegas. Pra mim, é uma declaração da mais pura fé.

Para esse tipo de gente, o céu não é mais uma esperança distante, mas um lugar real, um destino certo, a volta para o verdadeiro aconchego. Eles sabem que para chegar lá há algumas regras, algumas leis de trânsito e um caminho certo. Para o céu não tem atalhos e nem pedágios. É um caminho apertado, estreito, difícil de percorrer, mas não é um tipo de penitência ou algo que deva merecer.

O céu é um presente dado de graça sem porquês ou comos; simplesmente dado, simplesmente presenteado. Não tendo data certa para ser presenteado, para nós passa a ser um presente de desaniversário, mas para Deus é uma data para se comemorar um novo nascimento, portanto um novo aniversário. O céu é onde as aulas terminam e as férias começam, é onde os hospitais são lendas urbanas e as doenças puro folclore popular, é onde as lágrimas têm a conotação somente de alegria e onde a tristeza nem existe no dicionário. Nesse lugar mágico e real não há mais “adeus” ou “até logo”, mas sim eternos reencontros e novas descobertas.

Todo mundo quer ir para o céu, mas poucos aceitam o desafio de caminhar até lá. O céu existe assim como o inferno; ambos podem começar aqui. O único jeito de entrar lá é acreditando que esse lugar existe e que Deus o criou para você como um presente novo todo dia.

Diante de tudo isso fica a pergunta: quem na realidade está morrendo? Aqueles que já desfrutam e sabem o que significa paz ou aqueles que ainda sofrem as dores desse mundo? Insisto; o céu é para aqueles que passam a vida inteira sabendo que aqui nada mais é que uma viagem de volta pra casa.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Isso é Guerra!


Uma mãe que enterra seu filho antes da ordem natural das coisas. Um pai que rala todo dia, sua a camisa no serviço e nos ônibus, carros ou metrôs que o levam para o trabalho e no final do mês parece que o salário ri de sua cara e de seu esforço. Um filho ou filha que só queria brincar de uma forma mais perigosa. Queria subir aquela árvore mais alta, queria pular aquele muro mais alto. Mas a árvore agora se transforma numa viagem mais perigosa chamada “Droga”; o muro agora tem outro nome; é chamado de “Vício”. O que era para ser uma brincadeira de criança se torna problema de gente grande. Quando criança a gente queria ser grande, mas não dessa forma.

Os dias passam e dão a impressão que eles estão cada vez mais malignos, mais vazios, menos divertidos, menos interessantes. Já reparou que por mais que se tenham opções de programas a gente não desgruda o dedo do controle remoto da TV. Por mais que se crie atividades das mais variadas dentro da igreja as coisas parecem iguais. Por mais pessoas que tenhamos nas nossas redes sociais, a sensação é que a gente está falando sozinho.

Estamos numa guerra impiedosa; quer você queira ou não. Uma guerra pela alma desse mundo. É uma guerra entre a segunda chance da humanidade e a sua total condenação. De um lado um Homem/Deus ou Deus/Homem abre os braços e o peito para receber todos os tiros e balas perdidas em direção a cada um de nós. Do outro um príncipe caído, um anjo sem asas, a personificação do mal e seu maior significado. Ambos não desistem de seus objetivos.

Da mesma forma que Cristo não deixa de amar, o diabo não deixa de odiar. No meio disso tudo estamos nós; o alvo desse amor e desse ódio. Representamos o melhor de Deus, a obra prima do Eterno, a Mona Lisa, o teto da Capela Sistina, o jardim suspenso, as pirâmides, tudo o que é belo e de melhor, toda perfeição na relação Criador/criatura foi detalhadamente planejado e sonhado.

Mas também toda destruição e morte, todo desejo maldoso, toda mancha na pintura, todo defeito de fabricação encontrou lugar no nosso coração. Optamos por uma única fruta quando tínhamos todos os pomares do mundo. Preferimos a comida mofada e embolorada quando podíamos repetir todos os pratos e todos os sabores.

A guerra não está perdida. Somos como soldados feridos às portas da Grande Conquista. Os ferimentos doem e entram cada vez mais fundo na carne, mas Aquele que cura todas as feridas e enxuga todas as lágrimas está chegando. Aquele que faz coxos andar e cegos enxergar vem com paixão e fúria trazendo em suas mãos as nossas coroas.

Convoco todos os príncipes e princesas do Reino Celestial, todos os reis e rainhas do Céu a tomarem seus lugares ao lado do exército do Senhor dos Exércitos, a ficarem firmes em suas posições, a não desistirem de seus sonhos e de sua fé, porque Ele está chegando e não demora. Pois lembrem-se: ainda estamos em guerra!

domingo, 6 de novembro de 2011

Entre Prostíbulos e Enfermarias!


G.K. Chesterton, conhecido pensador e escritor britânico católico disse a seguinte frase: "Todo homem que bate na porta de um bordel está a procura de Deus". Confesso que fiquei petrificado diante de tal afirmação. Verdade! Fui tomado por um entendimento que não havia pensado antes. E isso me levou a escrever esse texto que é fruto apenas de uma reflexão diante da hipocrisia que a gente tem vivido.

Se você imaginar um prostíbulo conseguirá imaginar várias cenas acontecendo ao mesmo tempo. Talvez alguns nunca estiveram em um, mas conseguem através de conversas, depoimentos, fotos, filmes levantarem um esquema parecido. Imagine que nesse lugar estão todo tipo de gente com todo tipo de educação, posse e história. Agora saiba você que nesse lugar nada se consegue de graça, nada é gratuito. Um beijo, um abraço, um aperto de mão ou uma salada mista é pago. O entrar no ambiente tem um custo. A alegria de uma companhia, o prazer de um momento íntimo; tudo tem seu preço, mas nada ali é verdadeiro, é tudo mentira. O prazer, a alegria, a companhia, os elogios, os tapinhas nas costas; tudo é uma linda e efêmera ilusão.

As pessoas batem nas portas dos prostíbulos e bordeis porque ali, mesmo que sejam mentira, todos os sentimentos experimentados, todas as confissões, todas as histórias passam a ser verdade, porque é justamente o que todo ser humano quer; atenção, gentileza, compreensão, uma demonstração de carinho, ainda que seja falsa!

Mas na enfermaria não. Ali o sentimento é verdadeiro, é de cuidado. Ali todo mundo sabe a doença de todo mundo e ninguém se sente maior ou menor por causa disso. Nesse ambiente não é necessário mentir, usar máscaras, maquiagem para esconder as marcas e as cicatrizes, aliás, não se pode mentir porque senão a cura é inviável, o tratamento se torna inútil. Nada se faz nesse lugar apenas por dinheiro, mas por vocação. Lá as pessoas não produtos a serem analisados e consumidos; são seres humanos com suas fraquezas, doenças e dificuldades. Não precisam ser perfeitos e nem fingir qualquer postura de alguém impecável. Estão ali em busca da perfeição, estão ali reconhecendo a limitação, mas não se ajoelham perante ela. Lutam e lutam até o fim, porque o que importa não é se vão vencer ou perder, mas sim que não vão se entregar como aquele que luta o bom combate.

Convido a todos a saírem dos prostíbulos que estão vivendo, das maquiagens e cascas que estão impedindo a vida de lhes enxergarem e lhes reconhecerem como seres humanos que estão em busca de alegria, mas verdadeira; de paz, mas verdadeira; de companhia, mas verdadeira; de amizade, mas verdadeira!

Na enfermaria tem gente imperfeita. É como no Instituto do Dr. Hunter “Patch” Adams no estado de West Virginia nos Estados Unidos chamado “Gesundheit”, que do alemão significa “Saúde”, e que também pode ser usado quando alguém espirra. Lá todo mundo é paciente e doutor. Todos tratam e são tratados. Se não acreditarmos nisso e não aceitarmos o desafio de viver como uma enfermaria, onde a verdade vale mais que o bem estar mentiroso, continuaremos sofrendo calados e ninguém vai poder ouvir a nossa voz.