segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Primeiro Olhar


José não pediu para ser cego, aliás, muita coisa passou pela sua cabeça a respeito das possíveis causas de sua cegueira. A mãe, uma adolescente, ter fumado durante a gestação, a rejeição por parte do pai, um problema no parto, uma série de coisas inundava a mente de José. Desde criança ele ouvia muito a respeito das cores, das formas das coisas, dos rostos das pessoas, mas como explicar “loiro” para alguém que nem sabe o que é amarelo? Ele apenas imaginava, porque a única cor que ele conhecia era preta, e de vez em quando, um vermelho crepúsculo. Até isso ele não sabia!

O seu tato e olfato melhores do que qualquer amigo ou familiar. Sabia qual era a pessoa à sua frente tocando-lhe o rosto e, às vezes, pelo cheiro do perfume. Sua audição também muito apurada sabia reconhecer quando era o avô que falava ou quando era a mãe que chegava do trabalho. A avó cantando na cozinha fazendo nhoque e o molho de tomate era de aumentar a fome e o sossego no coração. Digamos que foi uma infância um tanto difícil, principalmente quando seus primos iam para a praia e não o chamavam, diziam que ele “dava muito trabalho”, mas José teve seus bons momentos quando no primeiro Natal em que ele passou com toda a família reunida e ele teve que adivinhar seus presentes tocando nos embrulhos. Foi inesquecível!

Na adolescência, a descoberta de um sentimento um tanto estranho. Ele estava se apaixonando por uma menina, ele se encantara com sua voz e pela sua delicadeza. Quando ela o ajudava com os afazeres da escola, ele sentia o perfume e conseguia sentir a pele daquela que tinha roubado seu coração. Mas como amar alguém que nunca viu? Os meninos do bairro o apelidaram de Zé Ceguinho, que ficou com ele até o último dia de sua vida e que ele nunca gostou de verdade. Como ela amaria ou se casaria com o “Zé Ceguinho”? A grande maioria das pessoas se achava superiores ao Zé, se não superiores tinham pena do pobre rapaz que não podia ver. Ele acaba desistindo de amar, de se abrir, mesmo que um ou dois amigos o tivessem incentivado.

Um convite inesperado aparece. Um acampamento de jovens cristãos num lugar super bacana não parece uma má idéia. Ele vai e numa noite as estrelas brilharam mais fortes e, mesmo que seus olhos de carne estivessem escurecidos, os olhos da alma se abrem e ele consegue ver o que muita gente boa de vista não vê; a face de Deus revelada em Jesus. Lágrimas caem de seus olhos e seu amor é correspondido não pelo fato de ele ser cego, mas justamente porque José conseguiu ver Deus em sua cegueira. Entendeu que o fato de ser cego não era um limite, mas uma maneira livre de pensar e criar as coisas da forma como quisesse, como Beethoven sendo surdo criava as melodias que queria.

Os anos passam e o Zé Ceguinho morre. A escuridão agora se transforma em uma forte luz. É a primeira vez que ele abre os olhos e a primeira coisa que o Zé vê é a face de um homem sorrindo, mas ele sabia que não era um homem qualquer, era o rosto Daquele que devolve a vista ao cego, era Aquele que tinha cumprido com tudo que havia prometido. Como de costume, Zé toca a face de Jesus e diz: “É verdade mesmo que nem olhos viram e nem ouvidos ouviram e nem jamais entrou em coração humano o que o Senhor tem preparado”.

A (In)Diferença Cristã


Não precisamos derrotar nossos medos, basta lutar contra eles. Não precisamos tratar o pecado e o pecador com uma pseudo justiça e uma falsa moralidade, apenas enfrente as dificuldades humanas de forma honesta e curadora. O grande problema é que não estamos dispostos a lutar por mais nada. Lutar contra o pecado é lutar por seres humanos melhores e sem máscaras. O que mais se tem é gente querendo esconder o que não deve ser escondido. É o mesmo que ir ao médico e não dizer os sintomas, ou mentir dizendo que não está sentindo nada.

A grande diferença cristã nesse mundo maluco de incoerências é não criar diferença nenhuma. O problema é que criamos um gueto onde só se entra ou só se sai seguindo alguns rituais ou dogmas produzidos ao longo da história, ou vestindo determinados tipos de roupas, ou tendo um penteado caracterizado, ou falando uma língua “evangeliquês”, tudo se resumindo a usos e costumes.

O cristão é um ser humano como qualquer outro, mas que tomou a decisão de lutar contra seus desejos ao invés de cruzar os braços e deixar que a vida o levasse para qualquer lugar ou situação. O cristão não se preocupa em ganhar ou perder, ele se preocupa em entrar na briga. A vitória é dada àquele que se dispõe a enfrentar as filosofias e os comportamentos que querem transformar o ser humano na pior das criaturas divinas, sendo que Deus quando cria o homem diz que é muito bom. Portanto, se o Criador diz que sua criação é muito boa, isso significa que um valor divino foi depositado em cada ser humano vivente na Terra. Não há uma pessoa sequer na Terra em que Deus tenha se arrependido de ter criado. A questão é que durante suas vidas, algumas criaturas se acharam no direito de seguir em frente sem a permissão e o cuidado de Deus. Deus, sendo pai bondoso e conhecedor de todos os futuros de todas as histórias, deixa ir, na esperança do retorno de seu filho ao lar.

Combater o bom combate não significa que a pessoa tenha ganhado, apenas que valeu a pena não ter desistido de lutar. É matando um leão por dia, engolindo sapo e dando meia volta onde parecia ser certo prosseguir que o cristão se converte em ser humano. E o ser humano se converte em cristão quando reconhece que só consegue lutar dessa forma através da força, da graça e da presença de Deus.

A Bíblia diz que os tímidos não herdarão o Reino. O Livro não fala da personalidade da pessoa, mas sim da covardia, da timidez diante da escolha a ser tomada. Aqueles que insistem em lutar, aqueles que não abaixam a guarda, aqueles que choram quando não encontram forças, mesmo persistindo o desejo de continuar na batalha, aqueles que de joelhos não cansam de pedir por reforço constante não serão envergonhados, ainda que tombem na terra, serão coroados na eternidade.

O cristão que quer fazer diferença siga essa simples verdade: combata o bom combate, não desista de insistir em acreditar porque Ele está a caminho. Quando Ele chegar, o tempo das batalhas se encerra e o tempo de revelar de que lado lutamos se inicia.

Além da Imaginação


Tem gente que me pergunta se eu já vi um milagre. Respondo que vejo vários a cada dia. Basta ter olhos abertos, uma mente ativa e um coração disposto a se surpreender! Muito se fala sobre fé hoje em dia, mas pouco se fala sobre a verdadeira fé, aquela que é capaz de enxergar Deus no meio de tanta bagunça que está esse mundo.

A minha abordagem é um pouco diferente e não convencional. Não estou aqui para falar de uma fé em que você determina e as coisas acontecem. Esse tipo de coisa é o mesmo que dizer ao sol onde, como e quando ele deve brilhar. Vou falar da fé em que Ele determina e as coisas acontecem! Deus o tempo todo trabalha esse tipo de fé nas pessoas, esse que é o verdadeiro estilo de fé, o real estilo de Deus agir, ou seja, através da imaginação. Por isso afirmo com todas as letras, categoricamente: sem imaginação/fé é impossível agradar a Deus. Parafraseando o versículo de Hebreus 11.

Vou usar alguns exemplos que ilustram o que estou afirmando. Moisés diante do Mar Vermelho e atrás dele o exército de Faraó. Para Moisés não tinha solução, mas para Deus tudo tem solução. Deus pergunta para Moisés o porquê que ele e o povo estavam parados; eles deveriam marchar. O Eterno determina que Moisés levante o cajado; ele o faz e o Mar se parte em dois e a galera passa com os pés secos. Moisés e Deus se entenderam nessa hora e tiveram a imaginação/fé de que o mar poderia se abrir. Ainda no deserto o povo com fome e durante quarenta anos foram alimentados por Deus através de uma comida vinda do céu que não tem tradução, mas ficou conhecida por Maná, e o povo não enjoava. Imagino que cada dia esse Maná tinha um gosto diferente a gosto do freguês.

Mas têm momentos em que nossa imaginação não bate com a imaginação de Deus. E o que fazer quando isso acontece? Tem hora que a gente acha que a nossa imaginação é mais bonita e mais perfeita que a de Deus, que os nossos sonhos são mais corretos e mais justos que os Dele, que a nossa vida estaria melhor se Ele não interferisse tanto! Mais uma vez o problema não está em Deus, e sim, na maneira como aprendemos a entender Deus. Ele tem pensamentos maiores a respeito de nós, porque os nossos pensamentos são limitados como nossa imaginação/fé é. Somente quando entramos em contato com os pensamentos de Deus; e isso através de muito atrevimento em querer experimentar Deus, é que podemos conseguir o impossível se tornar possível, o inimaginável se tornar imaginável, o irreal se tornar real, a montanha se mover de um lugar para o outro e por fim se jogar no mar.

Quando disse que vejo milagres todos os dias é porque vejo todos os dias minha esposa se levantar de manhã para trabalhar porque ela sabe que Deus vai honrar seu esforço, quando vejo uma mãe que luta contra o mundo inteiro para resgatar seu filho das drogas e, às vezes, consegue, quando vejo um pai ralando todo dia para ver seus filhos bem educados e melhores que ele em conhecimento e oportunidades, quando vejo filhos ralando de estudar porque sabem que podem encontrar e construir um futuro melhor que o presente, quando alguém lê esse artigo e pode imaginar, e ao mesmo tempo, ter a percepção real e, talvez, palpável de uma necessidade suprida, um sonho realizado e uma vida realizada.