domingo, 31 de outubro de 2010

Imitadores!


Existem textos bíblicos que ao longo dos anos de leitura vão tomando novas formas e adquirindo a sua real identidade. Deixam de ser pretextos para se tornarem texto vivo e de um significado novo que faz a gente repensar a vida cristã de uma forma mais humana, sincera e honesta.

Um desses textos foi aquela passagem onde o apóstolo Paulo diz para sermos seus imitadores como ele o é de Cristo. Achava uma imensa pretensão de Paulo dizer essas palavras. Alguns me diziam que o texto era inspirado e que essa era a única razão suficiente para aceitar o texto da forma como está. Acredito na inspiração das Escrituras que ela é a Palavra de Deus, mas usar a inspiração para usar como desculpa para a falta de interpretação e de entendimento do texto já é demais.

Paulo é muito coerente com seu pensamento. Ele jamais chamaria uma responsabilidade tão grande sobre si. Como ele era um apóstolo, um líder que falava para dezenas de milhares de pessoas, ele jamais pediria que esses ouvintes apenas o imitassem como sendo o exemplo mor de todo comportamento humano. Paulo mesmo em uma de suas cartas diz que ele é o pior dos pecadores. Sendo assim, como imitar o pior dos pecadores?

A questão é que Paulo usa de uma lógica filosófica grega. Não nos esqueçamos que o apóstolo vivia numa época em que a cultura grega é muito comum, inclusive a sua escrita é e língua grega para que assim ele pudesse alcançar mais gente e mais lugares! Paulo, na verdade, está dizendo que devemos sim ser seus imitadores, porque, como conseqüência disso, ele imita a Cristo. Logo, devemos imitar a Cristo!

Paulo não bate no peito e clama por reconhecimento, Paulo não é presunçoso, Paulo é, na verdade, um grande pensador que usa de sabedoria para simplesmente dizer que quem é o alvo de nossa imitação é Cristo. Todos os jeitos, a fala, o modo de pensar, o modo de agir, a maneira de orar e de comunicar, as formas de tratar as pessoas e de entender como funciona o Reino de Deus. Tudo isso é imitar a Cristo.

É muito mais que falar igual ao Silvio Santos, usar os mesmos ternos ou ter o mesmo penteado. É incorporar em sua personalidade a essência de um Deus que viveu como humano e ensinou a humanidade e ser gente! É não negar as suas falhas, mas encará-las de frente e saber que elas nunca foram superiores ao amor do Pai que perdoa e limpa todas as nossas falhas. É saber que o julgamento dos nossos pecados aconteceu no Calvário e o veredicto foi: “perdoado”!

Imitar os outros é muito engraçado! É uma espécie de homenagem a uma personalidade única. Quem imita sabe que aquela pessoa só é imitada porque ela única e todos vão saber quem é! Por isso, imitar a Paulo é imitar a Cristo e nada mais. Sem peso de ser um Deus, mas a graça de ser apenas humano e a imagem de semelhança de Deus!

Arte e Artistas!


Quem nunca escutou a seguinte frase: “Você que é crente peca quando escuta música do mundo”? Eu escutei diversas vezes, inclusive já fui disciplinado porque fui a um show de música popular. “Onde já se viu”, me perguntavam, “um crente como você ir a esses encontros mundanos?”. Eu sou de onde? Desse mundo ou de Plutão? Será que minha mãe na verdade pertencia a uma comunidade de ETs que habitavam um dos anéis de Saturno e meu pai é um foragido da justiça da constelação de Antares? Claro que não. Bem, é claro que nem tudo que se canta e toca por aí é de boa qualidade, tem boa fama ou causa algum bem, mas não podemos também dizer que tudo que está aí é do capeta! Aliás, meus caros, muita coisa dita como “gospel” está mais para “bostel”!


Dias atrás mesmo fiquei meio que perdido quando escutei uma música, um funk, que dizia a seguinte frase: “Vou te comer!”. Não sei se era a dança do lobo mau, mas fiquei meio que escandalizado! Quer dizer que as cinco velocidades do famoso “créu” perderam força e agora o negócio é “comer” mesmo! Djavan que me desculpe, mas o “por dentro eu te devoro” de sua linda poesia está ficando muito tradicional! Chega de hinos poéticos, vamos entrar no “côro”!


Não precisamos ir longe. Nossas músicas, algumas, perderam seu verdadeiro valor de transmitir mensagens que fazem o nosso coração descansar, que fazem nossos olhos enxergarem esperança. Agora o negócio é ir “para esquerda, para direita, para frente e para trás”. Declarar que o Senhor é “Soberano sobre a terra, sobre os céus Tu és Senhor absoluto” é coisa do passado. É mais fácil dizer que “eu vou subir” muitas e muitas vezes até que eu entre em estado de Nirvana e suba mesmo!


Por outro lado, também não curto muito esse negócio bairrista de que só a música do cantor tal é que presta! Fica uma guerrinha de quem é melhor, de quem é mais poeta, de quem é mais. Esses Jihads da música gospel é que estragam com o verdadeiro sentido da música, que é comunicar as belezas do Senhor. Tem gente que entende o evangelho quando escuta Diante do Trono e tem gente que entende o evangelho escutando Stênio Marcius; claro que não há comparação entre eles. Lógico, são propostas diferentes, mas carregam dentro de si a vontade de cantar aquilo que acreditam!


Dizer que esse cantor ou aquela cantora não é de Deus passa a ser acusação séria. Ninguém que é humano pode chamar para si a responsabilidade de julgar quem quer que seja, pois a cadeira de Juiz já tem dono e está ocupada antes mesmo de existir mundo!


Meu convite é que aprendamos a curtir melhor a arte que Deus permite que seres humanos, abençoados com sua graça comum, acabam criando de uma forma belíssima. As artes estão aí para serem instrumentos de benção e de manifestações da presença de Deus aqui na Terra! Sejamos mais artistas, mais palhaços, mais malabaristas, mais compositores, mais poetas, e menos chatos, pelo amor de Deus!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

As Senhoras Primeiro


Enoja-me a forma como algumas coisas no meio cristão são tratadas! Parece muito simples dizer que é contra o aborto, muito fácil dizer que é contra isso ou aquilo. Dá a impressão que somos aquilo que somos contra. A identidade do cristão é determinada por aquilo que ele é contra! Se for contra o aborto, é cristão. Se for contra a prostituição, é cristão. Se for contra o divórcio, é cristão! Tudo muito taxativo, tudo muito certinho, tudo muito chato!

Engraçado como Cristo tratava certos grupos considerados impuros pela sociedade e religiosidade judaicas. Um de Seus discípulos que posteriormente escreve um dos Evangelhos era um cobrador de impostos; Ele curou o servo de um centurião romano, dizendo inclusive que não havia fé semelhante em Israel comparada com a do centurião; disse para andarmos não uma, mas duas milhas com nosso inimigo, ou seja, quantas forem necessárias; come na casa do chefe da coletoria Zaqueu; faz amizade com gente que não era considerada muito certinha, pois comia e bebia com eles, sinal de amizade e intimidade; honra mulheres que antes eram humilhadas e apedrejadas.

As desigualdades sociais e as suas conseqüências são de responsabilidade de todos nós. É muito fácil criticarmos as Paradas Gays e continuarmos a jogar pedras nos homossexuais com a prerrogativa de que estamos com a verdade. Gente, os militantes xiitas do Oriente Médio fazem isso melhor do que nós!

E a prostituição, então? Engraçado que Cristo recebe a adoração de uma prostituta, perdoa e liberta aquela mulher para uma vida de verdade! É recebida pelo Cristo como uma princesa, é tratada como uma filha que volta pra pedir desculpas para o pai depois de uma desobediência e sai dali com a certeza de que acabou de conversar com seu irmão mais velho, aquele que cuida dos passos da irmã mais nova!

Deveríamos repensar nossa maneira de tratar os seres humanos a partir do modelo comportamental de Jesus! Nosso Senhor nunca desprezou e nunca desamparou ninguém, nuca taxou ninguém disso ou daquilo, mas sim exerceu atitudes que mudaram e transformaram vidas, emoções, transformaram o cotidiano daquelas pessoas. Cristo apresentou o verdadeiro Deus e fez com que pessoas, antes enxotadas pela religiosidade, fossem recebidas como reis e rainhas do Paraíso! Se devemos ser como Cristo foi, esse é um bom começo!

Um tanto intrigante é o fato de Cristo dizer que meretrizes entrariam antes no Reino dos Céus! É uma frase forte hoje, e foi uma frase forte para quem a escutou pela primeira vez lá em Israel, mas o fato não é a frase em si, mas quem a disse. Então, desde já vamos nos preparar, senhores pastores, apóstolos, bispos, líderes de louvor, famosos da fé; quando formos entrar pela porta eterna sejamos no mínimo educados e digamos às nossas irmãs: a senhora primeiro!

A Voz de Alguém


Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Não sei até onde isso é verdade, até onde Deus pode mesmo usar da voz do povo para falar alguma coisa. Mas o que sei e o que vi nesses poucos anos de vida é que nem sempre Deus está ecoando a voz do povo. Porém me ocorre que numa passagem específica das Escrituras Sagradas fica essa grande pergunta. Que voz condenou a Cristo à cruz? Seria a voz do povo ou a voz de Deus?

Numa eleição onde o universo inteiro estava envolvido, tínhamos de um lado o candidato do mundo; Barrabás, e do outro havia o candidato para o mundo; o próprio Cristo! Um representava a vontade soberana dos homens, o desejo de ser independente, o anseio de se ver livre de qualquer Deus humano. O Outro representava o interesse soberano do único Soberano, a vontade de ver Sua criatura livre do desejo de querer ser Deus, o desejo de libertar de uma vez por todas a Sua obra-prima de qualquer estereótipo pseudo santo ou pseudo religioso. A multidão fez a sua escolha. Mas qual seria a escolha?

Eles deveriam escolher aquele que sairia livre, sem culpa, perdoado de seus crimes. Aquele que ficasse estaria fadado à cruz e ao sofrimento que a crucificação acarretava. Em certo sentido, a multidão foi sim a voz de Deus. Deus escolheu que o homem fosse livre de sua culpa e de seu sofrimento e escolheu sofrer a vergonha do madeiro. A multidão mais uma vez foi um instrumento imperfeito nas mãos do Perfeito!

Há certos movimentos na nossa vida que a gente não entende e quando a gente força para entender parece que o sofrimento é dobrado. Há escolhas que a gente faz que, muitas vezes, não mostram nenhum resultado aparente. O fato de Cristo ter sido escolhido pelo povo não foi porque eles sabiam que a profecia precisava se cumprir e que o Cordeiro de Deus precisava ser sacrificado; eles queriam na verdade romper com esse Cristo atrevido, enxerido que veio da cidadezinha de Nazaré achando que era filho de Deus. As palavras de Jesus incomodavam a religiosidade e os interesses dos líderes. Eles não queriam a salvação; queriam a morte Daquele que prometia vida eterna!

Mas o tiro saiu pela culatra! Mesmo o mundo não querendo a salvação, negando até o último minuto o desejo de liberdade, Deus concedeu salvação de graça com graça. Mal sabia o povo que dizendo: “Crucifica-o” para Pilatos acerca de Jesus, ele estava dizendo sem saber que reconheciam o fato daquele Galileu Nazareno, filho de carpinteiro ser o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. E tirou mesmo!

A história mostra que o pedido de morte partiu da multidão, mas a história também mostra que a infecção da humanidade pela vida partiu do próprio Deus antes mesmo da existência do universo. Se a voz do povo é a voz de Deus eu não sei. Só sei de uma coisa. Quando o povo saiu para crucificar o nosso Rei, quando saiu para zombá-lO e para maltratá-lO, Deus já havia dito que a salvação havia chegado e que era tempo de se alegrar.