segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Caras, Bocas e a Poeira da Vida Diária!


Há um tempo atrás, um rapaz olhando minha página do orkut, que aliás, quase nunca visito por absoluta falta de tempo, decidiu que deveria me difamar em nome de Deus, num blog. Agora vai ser mais fácil ainda porque também estou no Twitter e no Facebook... Difamar as pessoas tudo bem, este é um dos pecados mais antigos do homem depois da queda. Difamar em nome de Deus, então, é um hábito, quase uma obrigação religiosa. Na obrigação de “zelar” pelo bom nome do evangelho, procuramos honestamente trabalhar pelo mau nome de alguns infelizes, como algozes de uma santa inquisição evangélica. Porém, difamar em blog é um privilégio de nossos cyber-tempos.

Ao ver o blog difamatório, fiquei pasma. Não achei que seria um assunto de interesse das pessoas as comunidades do orkut que escolhi para pertencer. E pior, que isto poderia afetar o que as pessoas pensam do meu caráter. Ledo engano pensar que a música que escuto no carro vai deixar de ser elemento de discussão religiosa. Na doença do “celebridadismo” que sofremos, tudo é relevante. Basta assistir ao programa de fofocas da rede TV, da Band, ou da Globo; basta ver na revista Caras que a marca de cueca que o Gianechini usa é D&G e que a Xuxa só se banha com leite importado de algum lugar caríssimo. O mundo evangélico poderia ser diferente, mas não é.

Estamos em busca de uma transcendência absoluta. O líder religioso não é humano -- é semidivino; deve ser persona, personalidade. Deve demonstrar uma superioridade absoluta. Não pode se cansar, não pode “estar num mau dia” ou dolorido, ou amargo, ou num daqueles dias em que Deus se esconde na nuvem. Ele (ou ela, principalmente ela) tem que estar límpido, leve, divinamente inspirado em todo tempo, apresentar uma humildade distante e lustrosa, ser bonito, e, se for mulher, magra (o homem não precisa, mas a mulher tem que ter formas de violão, mesmo que seu objetivo não seja atrair ninguém sexualmente. Aliás, engordei muito ultimamente -- orem por mim). Ele tem que orar de forma impressionante, de preferência com efeitos especiais, tem que falar manso, não pensar em dinheiro nunca num extremo, senão, será mercenário e obcecado por prosperidade, mesmo que seja explorado em todos os eventos dos quais participa (e esta infelizmente é quase a regra). Pior ainda, no meio evangélico suas falas serão gravadas e vendidas sem que você tenha direito a nem uma merreca (porque não fazem assim com os cantores?) e quando ganhar oferta, na maioria das vezes será apenas o suficiente para o táxi de volta pra casa.

As celebridades de Caras (preferia a B....s, quando existia) ganham para viver esta vida escancarada. As nossas, pagam pra isto. Esta é a regra do mercado; esta é a demanda do público, plebe ignara, ovelhas encurraladas numa cerca de preconceitos e dogmas, feridas demais, cansadas demais, emburrecidas demais, carentes demais para pensar por si sós... Alguns compraram o pacote completo: cabresto e viseira.

Ah, irmãos, me desculpem, mas não posso aceitar isto. Não creio que as pessoas não saibam que todos nós, mesmo os líderes, somos gente como qualquer outra gente. Gente de carne e osso, mais carne que osso muitas vezes... Temos nossos erros e acertos, pecados e perdões. Lia Morin e Capra (que descobri pelo blog que são bruxos) quando fiz meu orkut, assim como li Yancey e Nouwen ontem, ambos cristãos (um batista e outro católico), não pela sua religião, mas pela sua lucidez. Hoje voltei aos crentes Mangalwadi e Ramachandra, mas, como quase ninguém os conhece, nem os menciono. Vão concluir que me converti ao hinduísmo... Não basta ser cristão para ser honesto, ou sábio, ou inteligente.

Tem muito cristão escrevendo por aí cujo ensino não vale a folha de papel em que está escrito. Morin e Capra são filósofos -- um da pedagogia outro da física e da biologia, ambos tateando realidades com suas almas sedentas de Deus e de verdade; sede esta que não é exclusividade dos cristãos. Quem sabe, se ao tatear também, posso deparar-me com alguma verdade. A verdade de Deus é patente e manifesta no mundo para todos os que o buscam...

Escutei na voz de Damien Rice (que já enjoei) um desespero e uma angústia que eu precisava sentir para me comunicar de maneira compreensível com este mundo desesperado e angustiado. E também por gosto musical -- mas será que pode? Pode gostar-se mais de Clapton do que de Kleber, de Elis do que de Aline? Temos que ter direito ao gosto, pelo amor de Deus! Temos que ter o direito à vida, à arte, ao sublime, e não ser obrigados apenas a chafurdar no comercialismo gospel em nome de uma santidade que nem bíblica é...

Picasso disse que a arte tira do espírito a poeira da vida diária. Morro de medo quando vejo pintores evangélicos. Será que quando a arte da pintura evangélica se disseminar a ponto de dominar o mercado gospel ainda poderei ver beleza nos pescoços compridos das mulheres de Modgliani, no cubismo de Picasso, ou terei que negar-lhes a sublimidade de sua arte só porque um era bêbado e o outro mulherengo? Ai que medo deste totalitarismo religioso...

Ai que medo de uma fé tão frágil, de uma religião tão obtusa e obcecada consigo mesma. Ai que medo de um povo tão grande, tão nobre, e, ao mesmo tempo tão pequeno e tão medíocre.

Bráulia Ribeiro, missionária em Porto Velho, RO, é autora de Chamado Radical (Editora Ultimato). braulia.ribeiro@uol.com.br

domingo, 30 de agosto de 2009

Igreja: Máquina ou Humana?


“Não sois máquinas, humanos é que sois”!

Quando ouvi essa frase pela primeira vez não pude conter a comparação com a Igreja dos nossos dias. Igreja aqui se tratando dessa instituição chefiada pelos homens e corrompida pelos mesmos. Sei que há diversas qualidades e pontos positivos em relação à Igreja, mas minha intenção aqui não é tratar de pontos positivos, mas falar sobre o que tem assolado corações e aberto feridas quase que incuráveis em muitas vidas e ministérios.

Quero dizer que este artigo também é um clamor de um sonho de ver a Igreja curada em muitos dos seus aspectos. Isso implica cura de seus membros. A instituição está aí por causa dos homens e da organização que se faz necessária para termos uma direção, um norte para onde podemos seguir e colocar nossa confiança. Mas quando essa instituição está doente, quando seus líderes são pessoas doentes, o norte fica doente, a direção fica falha e o povo padece por causa da fome espiritual e de intimidade com Deus que eles não vêem seus líderes ter.

O que acontece em muitos púlpitos é uma mistura de obrigação, dever com uma profunda necessidade de apenas servir sem precisar mostrar serviço para ninguém, apenas para Deus, que por Si já é uma cobrança pesadíssima. Fazer essa máquina institucional girar o tempo todo gera um sentimento de frustração em muitos pastores e líderes de ministérios. Quando algo não dá certo, a gente quer procurar um culpado, quer achar um álibi para tirar o nosso da reta, quer encontrar mil e uma desculpas. Parece ser difícil encarar o “não deu certo” como uma intervenção de Deus para que aquilo não se realizasse; entender apenas que Deus não quis e pronto. Sem crise, seguindo a trilha sabendo que Ele sabe o que está fazendo.

Mas isso não basta. Parece que a fome por poder e por controle faz muitos lideres e pastores fecharem seus olhos e taparem seus ouvidos para aquilo que Deus quer e deseja realizar.

Somos chamados a sermos humanos nas mãos de um Deus amoroso. Chega dessa história de resultados por nossas mãos e esforços. Deus é quem dá o crescimento, já dizia o apóstolo Paulo. Agora se alguém aí tem mais experiência que Paulo e discorde dele, por favor, que o diga antes que eu termine.

Somos chamados para uma luta onde já somos vitoriosos, é só confiar e saber que Ele tem o melhor para nós, sem desespero e sem mágoas. Não precisamos negociar com Deus, não precisamos barganhar com Deus títulos e reconhecimentos. Isso é totalmente desnecessário quando se fala de relacionamento com Deus. Deus só quer nosso coração, só quer ter um relacionamento desprovido de qualquer fator externo de negociação onde o objeto da barganha seja a benção em troca de esforços físicos, emocionais e espirituais. Não precisamos de nada desse lixo.

A igreja só será o melhor lugar na terra quando ela se tornar o centro da vontade de Deus. Quando homens a usarem para angariar riquezas, protegerem seu patrimônio, manipular pessoas inocentes, ela continuará sendo uma máquina de causar sofrimento, desespero e decepção em muita gente. Mas acredito em Deus e não acho que Ele permitirá que sua noiva seja tão suja assim por esses porcos travestidos de pastores e por esses lobos travestidos de ovelhas. Um dia ela estará limpa, linda e purificada para o grande encontro com seu Noivo. Que o Senhor tenha misericórdia de todos nós, todos nós!

domingo, 23 de agosto de 2009

O Outro Lado!


Sempre temos o outro lado de qualquer situação. Aprendi que todas as histórias têm três versões: a versão da esquerda, a versão da direita e a verdadeira. Mas na verdade, a sensibilidade de entender que todos nós temos nosso outro lado da história é conquistada com o tempo e com a disponibilidade de abrir nossos olhos para um mundo mais amplo do que nosso próprio umbigo.


Há um mundo de gente de que não sabe como é ter fome, não sabe o que é ter um filho querendo algo simples como uma fruta ou um doce e não ter o dinheiro para comprar e não tendo também oportunidade de trabalhar para conseguir essa grana. Mas também há um mundo de gente que sabe o que é passar por essas coisas e muitas outras que não citamos aqui por justamente não conhecer. Esse é o outro lado.


Vemos na tela na nossa televisão os seres humanos matando e se matando todos os dias, vemos mães e pais matando seus filhos e seus sonhos, vemos filhos matando seus pais em troca de um namoro ou de mais uma pedra de crack, vemos as favelas e os tiroteios que fazem parte de seu cotidiano, vemos muitas coisas que nos deixam perplexos e até mesmo sem entender o porquê dessa situação toda. A razão está no fato de que todas essas pessoas não conhecem o outro lado.
Elas não viveram nada além daquilo que está sendo visto por nós nos nossos televisores. Elas não experimentaram nada além de violência e morte. Muitas nem sabem que podem ter oportunidades e chances de mudar de vida e de realizar sonhos antes enterrados no passado. É muito fácil falar da violência e não ter práticas ações de incentivo à transformação de vida.


Isso é o que o Evangelho faz na vida do individuo; apresenta o outro lado da vida. Apresenta a oportunidade de ser aquilo que sempre a gente sonha ser; ou seja, gente decente que pode levar uma vida decente sem precisar apelar para medidas drásticas e desesperadoras. Não estou negando o mau existente no homem, mas estou dizendo que algo que eu creio ser a digna e suficiente solução para o homem moderno: a vida que o Evangelho apresenta.


Na vida há o outro lado e há uma oportunidade de encontrarmos uma maneira mais humana de se viver. O Evangelho mostra como podemos ser mais humildes e mais santos sendo mais próximos de Deus e de nós mesmos. O Evangelho mostra que podemos olhar a vida na ótica de Deus e não se decepcionar com isso. O Evangelho ensina que a vida é mais do que carne e sangue, é mais do que ouro e prata, é mais do que um beijo e um momento de prazer na noite; é alegria na dor, é ser surpreendido pela paz no meio do tormento. O Evangelho mostra que podemos experimentar um pouco daquilo que pode ser céu. O Evangelho mostra que há uma chance de vivermos bem sem maiores esforços e sacrifícios, pois o maior dos sacrifícios foi feito no Calvário onde o Filho de Deus mostrou ao mundo que há um outro lado, o lado da vida.

Obama X McCain


Passarinho... Que Som É Esse???


Se Hoje Fosse Seu Último Dia!


Uma vez me perguntei o que faria se recebesse um diagnóstico médico dizendo que teria mais um dia de vida apenas. Muitas coisas passaram pela minha cabeça; tantas que nem em 24 horas que conseguiria fazê-las, pois passaria mais tempo nas ruas, nas estradas e nas avenidas indo atrás de quem me interessaria me encontrar nesse meu último dia. Talvez dissesse umas meias palavras para quem precisasse ouvir, talvez fosse ficar tocando bateria com amigos até a hora chegar, talvez saísse com minha esposa e visitaríamos o lugar dos nossos sonhos. Na verdade, talvez, não faria nada; ficaria curtindo o tédio do fim.

É bom pensarmos de vez em quando nesses assuntos porque nem sempre sabemos quando será nosso último dia. Tantas coisas pra resolver, tanto para se fazer e sonhos que ainda não se realizaram, tantas oportunidades que ainda não foram aproveitadas e quando o fim chega a máxima de que “a gente só valoriza algo quando perde” se torna realidade.

Vale lembrar que sempre Deus nos convida a ser diferentes daquilo que é a proposta do mundo, ou seja, pensar em nós mesmos apenas. Mas acontece que nem isso as pessoas estão conseguindo fazer. Não conseguem realizar o tanto querem porque o tempo é curto, o trabalho escraviza e não paga bem, a família só existe na foto e a alegria é apenas mais uma palavra bonita que a gente escuta nos sermões de domingo.

Todo dia é uma oportunidade de se fazer o bem. Todo dia é uma novidade. Se a gente não aprender a viver cada dia como uma novidade, uma surpresa, um conto de fadas com bruxas e princesas, a gente perde sentido de ser e fazer as coisas. Aprender a amar os outros e respeitar quem nos aborrece é um exercício para os heróis da fé. Heróis esses que muitas vezes são anônimos e desconhecidos das revistas e jornais; são desconhecidos das colunas sociais evangélicas, mas são amigos de anjos.

Gente que vive como se fosse o último dia na Terra, não deixa nada em branco e nada no preto, mas deixa tudo certo sem taxar de preto ou branco. Gente que vive vendo o amanhã como uma oportunidade nova e uma aventura deslumbrante. Gente que não tem medo do fim, pois o fim para eles não existe, apenas uma mudança de endereço.

Se hoje fosse meu último dia na Terra eu certamente estaria cercado de gente, cercado de amigos que já provaram estar do meu lado nos momentos mais escuros e desesperadores. Pessoas que abrem suas casas; cedem suas camas, compartilham seus talheres e pratos, levam-nos em seus carros, abençoam-nos com investimento financeiro, emprestam suas roupas e nos dão licença para morar em seus corações. Para mim seria a melhor maneira de viver meus últimos dias; estar com essas pessoas. Sendo assim, cada dia é uma novidade, uma chance nova, uma fascinante história de encontros e desencontros, um aprendizado que custa caro, mas vale a pena! E como vale!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma Aventura Sem Fim!


Quando a gente recebe uma notícia que não nos agrada, uma notícia que apenas aumenta uma dor antes sentida e esperada, a gente não percebe que está na verdade participando de uma história cheia de aventuras e perigos, como daquelas histórias que ouvimos quando criança onde o herói é perseguido, preso, mas quando está para morrer ele encontra força em algo mais poderoso e consegue se levantar e vencer o poder maligno do inimigo. Engraçado como essas histórias se tornam reais quando olhamos para nós e para aquilo que acontece conosco.

Minha esposa, em um momento onde sua voz se fundiu com a do Altíssimo, disse algo que acalmou o meu coração quando estava passando por profundos abismos. Ela disse: “Encare como uma aventura, mas não se esqueça de quem é o verdadeiro herói”. Achei isso fantástico! Não pude conter o sorriso e ver onde meus pés poderiam descansar caso não visse onde poderia pisar.

A vida da gente nada mais é mesmo que uma grande aventura. No entanto, devemos entender algumas coisas dessa história fabulosa. A primeira que nossos inimigos não são as pessoas, mas sim alguém muito mais astuto e dissimulado chamado Satanás. Ele é quem deve ser combatido e vencido. O que temos feito é dar apelidos ao inimigo das nossas almas. Temos apelidado Satanás com os nomes das pessoas que nos machucam, sendo que na verdade elas não passam de varas nas mãos dele. Quando alguém nos acerta com uma vara ou um pedaço de pedra, não brigamos com a pedra ou com a vara, mas com a pessoa que nos machucou. Pessoas se machucam umas às outras sem perceberem que a real ameaça está bem perto delas. Lembrem-se sempre que o nome do nosso inimigo não Sicrano ou Beltrano, mas Satanás.

Em segundo lugar, temos um chefe supremo e seu nome é Jesus. Ele é a razão de sermos o que somos e de termos o que temos. Não somos ou temos nada pelos nossos esforços, mas sim, pela benevolência e benção de Cristo. Nosso amigo, irmão, companheiro, parceiro leal na nossa luta diária jamais deixará que nosso coração se desanime. A gente pode sim, às vezes, sentir-se desanimado, fraco, abatido e angustiado pelos ataques constantes desse nosso inimigo em comum, mas nunca as forças de Satanás poderão se comparar com a potente ação de Deus na nossa vida. É só clamar, é só pedir e acreditar lá no fundo do coração como aquela esperança de uma criança que sabe que no final tudo vai dar certo ou senão nada da história teve graça. Por isso que Cristo pode que sejamos como criança, porque é mais fácil acreditar e não se torna difícil demais saber que em qualquer hora ouviremos o rugido do Leão mais poderoso do Universo, pronto para nos ajudar na nossa dor.

A aventura acontece quando a gente acredita mesmo que as coisas vão dar certo. Não da nossa maneira, mas da maneira como o autor quer que aconteça. Conhecendo o autor, sabemos que tudo pode acabar bem, até porque Ele tem o melhor para seus filhos e heróis. Não sabemos o final para não perder a graça. Aliás, o fim não existe, pois sempre quando a gente acha que acabou uma história outra logo se inicia.

Gênesis!


Quando As Coisas Não Funcionam da Maneira Como A Gente Quer!


Quando as coisas não funcionam da maneira como a gente quer, ficamos como que perdidos e completamente frustrados e achamos que Deus não está nem aí com nossa situação. Questionamos muitas vezes o que Deus estaria fazendo naquele exato momento; será que Ele não percebeu a maldade que estavam fazendo conosco? Será que Ele não é tão onipotente assim a ponto de nos livrar das mais diversas situações que nos embaraçam e nos envergonham?

Com certeza você já teve esse momento na sua vida onde a humilhação foi o grande acontecimento do dia, onde sua fraqueza foi exposta aos quatro cantos e agora todos sabem onde é seu ponto de vulnerabilidade. O pior não é apenas saberem da nossa fraqueza, mas usá-la, abusá-la ou controlá-la, manipulá-la!

Nem sempre as coisas vão acontecer do jeito que a gente quer. Elas muitas vezes têm maneiras estranhas para acontecer; estranhas, mas eficazes. Às vezes a gente quer ser o último ser na terra, ou melhor, nunca ter nascido; nunca ter conhecido essa ou aquela pessoa, nunca ter o conhecimento que a gente tem hoje. Às vezes a gente pensa em desistir de tudo, incluindo a vida como um todo. Chuta o balde e espera que seja o último dia.

Mas quando isso ocorre, eu me lembro de alguém que nunca desistiu sendo Ele quem era e passando pelo que Ele passou. Todos o abandonaram, inclusive seu círculo íntimo. No momento mais doloroso, onde acusações sem nexo foram ditas sobre Ele, o máximo que se ouvia d’Ele era um sussurro, o máximo que se via de Sua reação era uma lágrima e um sentimento, talvez, de gratidão por saber e ter a certeza de que muitos o seguiriam depois, mesmo que não acontecesse naquela hora, mas mais cedo ou mais tarde, isso aconteceria. E de fato aconteceu.

Ele não resistiu quando dos murros, das cusparadas em direção de seu rosto. Nunca havia feito nada de errado àquelas pessoas ali, muito pelo contrário, havia investido tempo, amor, poder e amizade. Muitos ali tinham sido impactados pela Sua mensagem e pelo Seu poder, tendo como prova um parente ou amigo curado ou até mesmo a si mesmo. Quando esteve diante das autoridades que podiam livrá-Lo da dor que sabia que O aguardava, não fez nada para aliviar, não manipulou situações, não negociou, não usou de poder ou de autoridade que Ele possuía, não quis controlar nada; apenas fez o que o Seu Pai quis: amou até o fim!

Quando as coisas não são do jeito que a gente acha que deveriam ser muitas coisas podem ser colocadas como razões explicativas para nos confortar, mas acredito que mesmo que as coisas não aconteçam da maneira como a gente quer, elas nunca vão fugir da vontade do Soberano Senhor. Podemos manipular, criar, dar um jeito, querer controlar, mas nada funciona com o Justo Juiz, onde tem tudo sobre controle, até mesmo aquilo que a gente acha que não.

Quando a erva não florescer, quando o galho não der a sua flor, quando o pânico atingir seu grau maior, quando a depressão atingir o ponto mais crítico, quando tudo parecer ir de mal a pior, quando apenas o que temos são as duas mãos vazias e os dois olhos cheios de lágrimas, nós devemos levantá-los para o céu e saber no fundo do coração, no fundo da alma, que no final tudo vai dar certo, mesmo que não seja do jeito que a gente quer.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

BBB só Para Baixinhos!!!


Até a "Rainha dos Baixinhos" se rendeu ao sucesso dos realitys shows. Mas, calma. Xuxa não vai participar de nenhum " Big Brother Brasil". Na verdade, ela revelou um sonho:

"Ficar num 'Big Brother' só com criança. Eles iam poder me pintar, cortar meu cabelo, passar até máquina! Eu seria a boneca deles. E só iam comer o que quisessem. As mães não iam gostar muito, mas a gente ia se divertir".

Brincadeiras à parte, Xuxa tem trabalhado intensamente na gravação de seu novo DVD, "Xuxa Só Para Baixinhos 9". E como não poderia deixar de ser, "baixinhos" não faltaram no estúdio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

"Fico ansiosa para gravar com crianças. Eu pago para estar aqui, esse é o melhor trabalho do
mundo", disse, em entrevista ao jornal "Extra". "A ideia do DVD é que a criança se reconheça na TV. A espontaneidade faz a diferença. Quanto mais [criança] tiver, melhor", completou.

O tema do DVD é "Natal Mágico". Xuxa gravou 16 canções entre clássicos natalinos, versões de hits internacionais e músicas inéditas.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Neopaganismo Evangélico!


Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. Teria rapidamente mudado de canal se não tivesse acabado de ler o interessante livro de Ronaldo de Almeida, "A Igreja Universal e seus Demônios - Um Estudo Etnográfico" [ed. Terceiro Nome, 152 págs., R$ 28], que me abriu os olhos para o lado especificamente religioso dos movimentos pentecostais. Até então, via neles sobretudo superstição, ignorando o sentido transcendente dessas práticas religiosas.

No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da igreja, no próximo mês, o dízimo subia de 10% para 20%. Em seguida, começou a interpelar os crentes para ver quem iria doar R$ 1.000, R$ 500 e assim foi descendo até chegar a R$ 1.

Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a igreja continuasse no seu trabalho mediador. Em suma, doar era uma questão de justiça entre o fiel e Deus.

Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina, troca fora do mercado, como se operasse numa sociedade sem classes. Isso marca uma diferença com os antigos movimentos protestantes, em particular o calvinismo, para os quais o trabalho é dever e a riqueza, manifestação benfazeja do bom cumprimento da norma moral.

Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana "é dando que se recebe", pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: "Recebes porque doastes". E como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos.

O crente doa apostando na fidelidade de Deus. Os dísticos gravados nos carros, "Deus é fiel", não o confirmam? Mas Dele espera-se reciprocidade, graças à mediação da igreja, cada vez mais eficaz conforme se torna mais rica. Deus é pensado à imagem e semelhança da igreja, cujo capital lança uma ponte entre Ele e o fiador.

Anticalvinismo

Além de negar a tradicional concepção calvinista e protestante do trabalho, esse novo crente não mantém com a igreja e seus pares uma relação amorosa, não faz do amor o peso de sua existência.

Sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser; apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez da conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?

Outro momento importante do livro é a crítica da Igreja Universal ao candomblé, tomado como fonte do mal. Essa crítica não possui apenas dimensões política e econômica, assume função religiosa, pois dá sentido ao pecado praticado pelo crente. O pecado nasce porque o fiel se afasta de Deus e, aproximando-se de uma divindade afro-brasileira, foge do circuito da dádiva. Configura fraqueza pessoal, infidelidade a Deus e à igreja.

Nada mais tem a ver com a ideia judaico-cristã do pecado original. Não se resolve naquela mácula, naquela ofensa, que somente poderia ser lavada pela graça de Deus e pela morte de Jesus, mas sempre requerendo a anuência do pecador.

Se resulta de uma fraqueza, desaparece quando o crente se fortalece, graças ao trabalho de purificação exercido pelo sacerdote. O fiel fraquejou na sua fidelidade, cedeu ao Diabo cheio de artimanhas e precisa de um mediador que, em nome de Deus, combata o Demônio. O exorcismo é descarrego, batalha entre duas potências que termina com a vitória do bem e a purificação do fiel.

Paganismo

Compreende-se, então, a função social do combate ao candomblé: traduz um antigo ritual cristão numa linguagem pagã. Os pastores dão pouca importância ao conhecimento das Escrituras, servem-se delas como relicário de exemplos. Importa-lhes mostrar que o Diabo, embora tenha sido criado por Deus, depois de sua queda se levanta como potência contra Deus e, para cumprir essa missão, trata de fazer o mal aos seres humanos.

O mal nasce do mal, ao contrário do ensinamento judeu-cristão que o localiza nas fissuras do livre-arbítrio. Adão e Eva são expulsos do Paraíso porque comeram o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e assim se tornam pecadores, porque agora são capazes de discriminar os termos dessa bipolaridade moral.

Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote persa Mani (também conhecido por Maniqueu), ativo no século 3º, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isso porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando o cristianismo com a teologia pagã.

Por José Arthur Gianotti
Prof. emério USP
fonte: Folha de São Paulo
Suplemento Mais 02/09/2009