sábado, 4 de abril de 2009

O Outro Eu



No filme “De Volta para o Futuro II” de Steven Spielberg há uma temática muito interessante. Os protagonistas se envolvem novamente na fascinante viagem no tempo e acabam chegando ao futuro, mais precisamente em 2015. Lá, eles acabam encontrando seus destinos e se realizaram de fato seus sonhos. Eles ficam espantados ao perceberem que os seus desejos principais não haviam se realizado. Um queria ser músico; sua namorada fica desapontada quando descobre o lugar de seu casamento. Pela fisionomia, percebe-se que não era bem aquele lugar que estava em seus planos.

O perigo, na verdade, estava em encontrar seus outros “eus” nesse futuro. Dr. Brown, o cientista da história, diz que se isso acontecesse um grande impacto cósmico destruiria toda a humanidade e o universo. Nada animador! Por outro lado, encontrar o outro eu sempre me trouxe uma curiosidade. Como seria me ver aos 40 anos? Ou talvez aos 60? Ou melhor, voltar a ser criança e relembrar todas as fantásticas e calamitosas artes que eu aprontava?

De fato, existe um perigo ao encontrar nosso eu. No caso, não estamos falando de idade e de tempo como no filme. Nosso verdadeiro eu. Aquele que não se esconde nas máscaras que vestimos e nas diversas personalidades que assumimos perante os outros para somente agradá-los e nos sentirmos aceitos no grupo. Esse eu que estou me referindo não está no futuro e nem no passado; ele está no presente!

Há também aquele que está dentro de nós atormentando, planejando, culpando-nos pelo nosso erro de cada dia. Brennan Manning o chama de “Impostor”; aquele que se divide em várias faces e esconde o nosso verdadeiro eu.

Todos nós temos uma área de nossa vida que fede, que traz nojo à nossa mente só de mencionar. Esse é aquele impostor que cria mundos extraordinários e faz de nós fantoches, marionetes dependendo da situação, lugar e público. Não preciso falar que grande parte da juventude sofre com isso. Não são aceitos pelo que eles são, mas sim aceitos através de máscaras e todo mundo acha que está bem, que está tudo bem! Não está!

Vejam quantos são os casos de depressão entre os jovens e adolescentes. Não precisamos focar apenas neles. Veja também os adultos, o que está acontecendo a eles! Loucos por sucesso e dinheiro, cometem os mais absurdos atos que nem eles conseguem explicar depois de feito. Escolhas erradas, alianças erradas, tudo isso porque o mundo pede que vocês sejam tudo menos você mesmo! E quando é revelado quem a gente é de verdade, as pessoas se assustam e projetam em nós suas falhas e seus erros mais íntimos.

É fácil olhar a ferida do outro, mas difícil é cuidar da nossa! É um exercício que a gente tem que fazer todo dia de joelhos na presença do Eterno, porque se não for assim, a gente vai parar no mesmo lugar onde todo mundo acaba parando; no nada! Vamos ser sinceros! Ninguém gosta de assumir que tem um lado sombrio, um lado capaz de fazer as mais terríveis barbáries e impensáveis atos.

O primeiro passo é reconhecer que esse impostor, esse “outro eu” existe. Ele existe e está sempre querendo aparecer mais que Cristo. Os aplausos contínuos, o elogio barato, a aceitação no grupo a qualquer custo, o fato de você não se achar bonito ou bonita, de você se achar gorda ou gordo demais e na verdade, o impostor lhe mata através dessa anorexia mental que acaba afetando seu corpo físico. É a pressão do grupo, do trabalho, da igreja que você freqüenta; tudo isso gera uma série de fatores que alimentam mais e mais os impostores que vivem dentro nós.
A gente precisa aceitar que esse camarada é a nossa carne pecaminosa acesa dentro de nós, latejando feito dor de dente. Aquele ser que Paulo, o apóstolo diz em Romanos que constantemente entra em batalha porque o mal que ele não quer fazer, esse ele faz e o bem que ele quer fazer, esse ele não faz. E ainda pergunta num clímax de desespero; “quem me livrará do corpo dessa morte?”

Paulo, homem de Deus, mas sempre se lembrando que era homem sujeito a erros e a tropeços como qualquer pecador da época em que ele vivia e que se não fosse a graça de Deus, a morte já o teria tragado e esmigalhado a alma.

Esse reconhecimento precisa estar sempre acontecendo. Humilhando-nos na presença do Senhor, sabendo que somos o que somos, temos o que temos, vestimos o que vestimos, comemos o que comemos só pela graça de Deus e pela Sua eterna e infinita misericórdia. Mas ele ainda está lá. Vive contando vantagem e dizendo que tudo não passa de balela e conversa fiada. A gente conseguiu por esforço próprio e nada de Deus nessa história toda. Cuidado! Ele precisa ser levado constantemente ao trono de Deus para ser lapidado novamente até que chegue a ser varão perfeito, como diz a Escritura. Mas essa perfeição que a Bíblia diz não é aqui que ela se conclui, mas sim na glória. Portanto, meus amigos, vamos morrer pecando e errando.

Meu outro eu precisa de elogios; é o seu alimento. Ele precisa ser notado e sempre quer ser aquele que faz e recebe o reconhecimento. Ele pensa que pode resolver as coisas do seu jeito e pode resolvê-las sozinho, mas ele se depara com a situação de que o homem não pode viver, agir e se relacionar consigo mesmo. Portanto, ao ver um grupo de pessoas reunidas conversando e se divertindo, ele quer ser o centro das atenções e nada e nem ninguém pode surrupiar essa posição dele. É bom falar firmemente que todos nós temos esse “eu” dentro de nós. Ninguém está livre dele.

O fato de você estar lendo esse artigo e pensando em outro é um indício de que o seu “outro eu” está aí dizendo que tudo isso não é pra você e sim para aquele vizinho chato, aquela mulher que não para de falar mal dos outros, aquele chefe durão que só é assim para exigir um respeito que não tem. Pare de pensar nos outros, pelo menos por esse momento. Olhe para dentro de si e comece a reconhecer de uma vez por todas que há uma batalha acontecendo dentro de nós. Uma batalha de vontades, de desejos, de intenções e de objetivos.

O segundo passo é aquele que já citamos aqui; devemos levar esse “outro eu” à presença do Redentor. Na verdade, esse “eu”, que somos nós, anseia por essa redenção final. Ficar livre de vez dessa natureza pecaminosa e destruidora e ter paz enfim.

Dia após dia, noite após noite, matando esse leão que ronda nossa alma querendo nos devorar. Não nos esquecendo jamais da graça de Deus que traz constrangimento para nós e nos leva calmamente a reconhecer que não podemos viver só e nem sem a presença do nosso amado Deus. Precisamos agora experimentar um pouco daquilo que está preparado para nós na eternidade. Uma promessa de esperança e de redenção eternas e que pode começar aqui.

Ao levarmos o nosso eu à presença de Deus, percebemos outra verdade que nos é obscurecida pelo pecado: somos os filhos amados de Deus. Na Bíblia, há um termo que Jesus usa para se dirigir a Deus e que causou um verdadeiro alvoroço no meio dos religiosos da época e que causa até hoje. O termo é Abba que significa “papai, paizinho, papa”. Era aquele balbuciar da criança hebraica ao se dirigir ao seu pai, era a maneira mais singela e íntima que uma criança poderia se dirigir ao seu ente protetor e amado. Jesus ao dirigir-se a Deus dessa forma, mostra que não é somente alguém que O conhece, mas é aquele que sabe realmente quem ele é de fato; ou seja, filho de Abba.

Realizando em Cristo o maior ato de amor já visto na história da humanidade, Deus agora nos vê como Seus filhos amados tendo Jesus como seu primogênito. Antes Jesus era o unigênito do Pai, mas agora, por causa do sangue puro e suficiente de Cristo derramado na cruz em cumprimento da Palavra, o próprio Cristo se torna o primeiro de muitos. A partir do momento em que entendemos quem somos na verdade, a saber, filhos de Abba, todas as demais necessidades são supridas ao seu tempo.

O “outro eu” não aceita essa verdade porque ele quer ser tudo, menos a sua verdadeira identidade. Ele quer agradar a todo mundo, menos a si mesmo e ao Seu criador. Ele quer receber os aplausos e os elogios de todo mundo, menos d’Aquele que nos presenteia com toda a sorte de bênçãos terrestres ou não. Esse conceito é extremamente ameaçador e incomoda não só o seu “outro eu”, mas incomoda muita gente que não aceita o fato de você ser feliz, o fato de que você entende a beleza da vida e quem você realmente é. A partir daí, você se torna uma ameaça a tudo que se chama falso. Um moralismo insuportável começa a perseguir cada passo seu e qualquer escorregada que você der, que é inevitável, um prato cheio será servido para esses moralistas. Mas saiba que para cada moralista, há uma centena de pecados não confessados e esses mesmos moralistas não aceitam o fato de que Deus os ama também da forma que eles são. Eles sentem que precisam ser assim para agradar a Deus. Ledo engano!

Assumamos de uma vez por todas a nossa verdadeira identidade, o nosso verdadeiro “eu”, aquele a quem Deus criou e disse que era muito bom. Somos os filhos amados de Abba a quem Ele quer bem e está disposto a nos aceitar do jeito que somos e nos ama tanto que não consegue nos deixar do jeito que estamos. Ele nos ama, quer que entendamos que somos Seus filhos amados e, como diz Paulo, nada nessa Terra, nesse universo, nem no futuro e nem no passado seja ele o mais sombrio e oculto que possa ser, nem as forças mais poderosas do inferno poderá nos separar desse amor eterno revelado no Cristo vivo.

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