quinta-feira, 9 de abril de 2009

Graça de graça!!


Estava assistindo uma novela na sala com algumas pessoas e estava passando uma cena um tanto interessante. Pra variar, a história era de uma mulher que havia traído o marido e queria o perdão dele, queria voltar pra casa e voltar a viver a vida a dois como se nada daquilo tivesse acontecido. Alguns na sala se revoltaram e ficaram perguntando: “Como pode? Quer dizer então que trai, fica com outro homem, volta, pede perdão e vive como se nada tivesse acontecido?”. A revolta era geral, quando me deu um estalo na mente que me fez pensar que é justamente o que Deus faz conosco. Erramos, pedimos perdão, Ele perdoa e continuamos a viver como se nada daquilo tivesse acontecido.

A graça escandaliza qualquer pessoa que não queira ser afetada por ela. Pense no caso de uma pessoa que em um surto de raiva acaba machucando alguém, por palavras ou até mesmo com uma arma. Ela não intencionava causar um dano do tamanho que se apresenta agora. Tudo o que ela pede é alguém que não a condene, tudo que ela pede é alguém que a entenda.

Mas cá entre nós, é muito difícil que isso ocorra, não é verdade? Na maioria dos casos vemos os acusadores e os defensores da moral e da ética cristã mostrarem suas asinhas e darem a sua bela contribuição para o crescimento do cristão caído, fazendo-o pagar verdadeiras penitências de algo que Deus já o livrou e perdoou.

Ao mesmo tempo sou confrontado com um texto marcante nas Escrituras onde Jesus está sendo questionado por essas eternas pragas eclesiásticas em um caso de adultério, onde a mulher adúltera é levada diante dEle para ser julgada e, então, apedrejada. Algumas considerações devem ser entendidas aqui.

É interessante que o homem adúltero não aparece na cena, onde ele está? Provavelmente entre os acusadores. “Ela me seduziu a praticar tal ato, ela me disse que ninguém saberia”, ele diria. Outra coisa, esse seria mais um plano que os inimigos de Jesus estavam tramando para prendê-lo e executá-lo. Tudo estava contra o relógio de Cristo, portanto, contra o relógio da graça.

Anima-me ao ver nesse texto um Jesus totalmente diferente do que me foi apresentado nas aulas de catecismo e nas visões humanas de gente que pensa que Jesus era alguém de cara carrancuda, que nunca na vida deu uma risada, que nunca chorou ou que nunca tenha se emocionado ao ver alguma coisa bonita.

A graça chega a tocar nas coisas mais simples que uma pessoa poderia imaginar. Ouvir uma boa música, ler um bom livro, apreciar um bom churrasco com amigos, dar muita risada das piadas da vida e por que não apreciar uma novela quando bem escrita e com uma história intrigante como em um filme. As histórias de ninar, as fábulas e os folclores populares, as esculturas. Tudo isso faz parte do que a Bíblia chama de Graça.

As pessoas são as mais incríveis e empolgantes demonstrações dessa Graça. Os seres humanos nada mais são do que uma bela sinfonia de notas diferentes umas das outras que montam uma peça maravilhosa. Cada movimento, cada escolha, cada sentimento vivido, tudo isso é parte de uma tragédia ou de um romance ou de um suspense ou de uma aventura. A Graça nos seres humanos, em cada um de nós, é uma manifestação da existência singular de Deus.

A graça é um presente de desaniversário, não tem hora nem lugar para dar. Quem que nunca tenha sentido saudade de alguém não ligou ou visitou a pessoa? Quem nunca jogou conversa fora numa noite de férias com os amigos? Quem nunca falou sozinho nos momentos de felicidade e principalmente nos momentos de raiva?

Não gosto de pessoas que vivem impedindo o povo de Deus de ser povo de Deus. Elas elaboram uma lista de tudo quanto você deve ou não fazer para ser considerado um filho de Deus. “Se você fizer isso ou aquilo que não aprovamos, você é digno de nossa tão santa disciplina”, dizem elas. Sendo que nesse período chamado de “disciplina” não há um acompanhamento, um telefonema, uma palavra amiga, uma mão que se estenda para ajudar a levantar o caído. Já disseram uma vez que a Igreja é o único exército que abandona seus feridos.

A graça veio para mudar tudo isso! Ela veio para conquistar os de “cara fechada” e para acalmar os animados demais. Ela veio para trazer uma gota de esperança para o estrangeiro nordestino que sai da sua terra e tenta a sorte na grande cidade e enfrenta o preconceito e as piadas do povo dito civilizado. Ela veio macular os conceitos humanos de ser e ter. Trouxe um novo prisma onde enxergamos um lado melhor das pessoas; as suas qualidades.

Jesus é a encarnação dessa graça. Jesus é aquele que deve ser visto como nosso exemplo mor. Imagino Jesus agachando-se e perguntando àquela mulher chorosa e arrependida, com uma voz doce e ao mesmo tempo firme: “Onde estão seus acusadores?”. A mulher levanta os olhos; vê que todos se foram atordoados com o julgamento do Mestre: “Aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra”, e diz que todos se foram. O texto não diz, mas imagino Jesus tomando aquela mulher pelos ombros, levanta-a e diz olhando nos seus olhos lacrimejantes: “Tampouco eu te condeno; vai e não peques mais!”. Jesus não julga como nós. Ele não condena o pecador que nós condenaríamos. Ele ama como nós deveríamos amar. Ele enxerga como nós deveríamos enxergar. Ele abraça como nós deveríamos abraçar. Ele só requer de nós que sejamos um com Ele, como Ele é com o Pai.

O Jesus dos quadros caríssimos de Da Vinci e de Michelangelo não é o Jesus que eu conheço. O Jesus que eu conheço é sério com o pecado, mas abraça o pecador. O Jesus que eu conheço é Santo Juiz, mas também é o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Não é uma graça barata que aqui apresento, mas é uma graça real, que liberta o pecador e traz paz ao coração de quem precisa dormir sem outros traumas criados por nós; já basta o que a vida oferece no pacote de nascimento.

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