sexta-feira, 24 de abril de 2009

Igreja: Um Hospital Para as Almas!


Talvez nesses poucos anos de ministério já posso dizer que tenho experimentado coisas que jamais pensei em experimentar. Pessoas que você confia tanto ou põe uma confiança tal e que no final das contas se mostram seres humanos falhos como qualquer outro. Mas se o problema fosse esse, posso garantir que teríamos menos igrejas e mais cristãos. O problema é mais grave do que se imagina: nós ficamos acostumados e indiferentes a essas situações. Acostumamo-nos com a injustiça e com o descaso. Alimentamo-nos todas as manhãs com o café da manhã do individualismo e tomamos o leite azedo do descaso para com o próximo.

O problema, talvez, no meu ponto de vista, é a institucionalização da igreja. Ela não mais tratada como um lugar onde se encontra paz e refrigério. Ela é quase uma empresa agora, com seus executivos e publicitários encontrando meios quase que mirabolantes de ter mais gente nos seus cultos. Não importa se aquela pessoa vai se tornar um membro da igreja, interessando-se pelos ensinos da Bíblia; isso não importa. Mesmo que importasse, quanto mais gente e número no final do ano para garantir mais um ano de salário, está bom demais! Encaro dessa maneira: se a igreja é como uma empresa, você e eu somos um produto a mais um produto na prateleira da fé.

Tudo isso e mais um pouco faz parte do cotidiano cristão atual. A vida do outro se torna mais importante e interessante quando tem algo de muito errado acontecendo com ele. Entretanto, o assunto não se desenvolve convidando as pessoas para orar ou coisa do tipo, mas sim, torna-se o assunto da semana, do mês e ai daquele que ainda não ouviu o grande “bafão” da semana.

Fiquei me perguntando nesses dias se realmente a igreja é realmente o hospital das almas perdidas e machucadas. Observei que alguns doentes não conseguem marcar consultas por conta da correria do dia a dia. E quando conseguem e expõe o seu problema, o conselheiro diz que é “falta de fé” e é considerado quase que um caso perdido. E aqueles que estão na liderança? Esses então podem pedir demissão porque não há lugar para gente “doente”.

Mas quando olho para a cruz vejo espaço suficiente para todos. Vejo um Jesus que não abre mão da companhia dos pobres de espírito e daqueles que choram porque eles são chamados de bem-aventurados. Vejo um Cristo que clama pela presença dos cansados e sobrecarregados para lhes conceder descanso e alívio.

Mas daí, voltemos a Igreja. Aquela que seria a representante desse mesmo Cristo na terra. Está aí a grande decepção de tanta gente, o cansaço de tantos líderes e o motivo de piada em tantos meios de comunicação.

A Igreja somos nós. Pessoas imperfeitas e naturalmente pecaminosas. Mas Cristo nos convoca a sermos diferentes, total e essencialmente revolucionários no sentido do comportamento humano diante de situações onde a maioria abandonaria e pularia fora do barco. Não haverá hospital na igreja enquanto não houver gente disposta a transformar-se em médicos e pacientes. Não haverá igreja como hospital de almas enquanto a própria igreja não abraçar e acreditar nessa afirmação.
Igrejas são feitas por pessoas. A transformação precisa acontecer nas pessoas, no coração de cada membro, de cada jovem, de cada adolescente, de cada adulto, de cada líder.

Estou cansado de encontrar por aí pastores e líderes super heróis. Aqueles invulneráveis que tem a fé de mover montanhas, mas não conseguem abalar um centímetro do coração angustiado do ouvinte que o atura todos os domingos nos púlpitos dos domingos.

Se a igreja hoje é um hospital para almas eu não sei afirmar, porque os corredores estão lotados, os atendimentos estão a desejar, e os médicos só atendem das nove às onze horas.

Como podemos afirmar que a igreja é o hospital sendo que um homosexual não tem lugar? Como podemos afirmar que a igreja é o hospital das almas sendo que um andante fedendo a pinga é convidado a se retirar para não atrapalhar o “culto a Deus”? Como temos coragem de afirmar que a igreja é um hospital de almas onde o principal motivo de adoração se fez homem e há tantos homens querendo ser Deus?

Quando leio minha Bíblia, que é a mesma que a sua, leitor, abre diante dos meus olhos uma realidade revolucionária para esse mundo. Vejo um Jesus abraçando prostitutas e fazendo descaso de religiosos inescrupulosos que tramam nas caladas da noite e pela manhã vestem uma túnica de uma pseudo-santidade. Vejo Cristo comendo, que era uma demonstração de intimidade ou do desejo desta, com publicanos e pecadores, os mais miseráveis da sociedade, os marginalizados e excluídos. Jesus disse que estes entrariam primeiro no reino de Deus do que aqueles que achavam que eram donos e intérpretes da Verdade. Vejo um Jesus que entende o peso e o julgo quase que mortal de uma religião fétida e injusta e convidando todos esses oprimidos a se deleitarem em sua suavidade e leveza como Redentor. Vejo um Jesus que cura não por ganância ou por fama e dinheiro, mas por amor e para confirmar que Ele é de fato o filho de Deus encarnado. Vejo um Cristo que ama andar com aqueles homens inconstantes que ele chamou para serem discípulos; ensinando-os a serem de fato homens de verdade e anunciadores dessa verdade. Vejo um Jesus da graça que não mede esforços para cumprir a vontade do Pai do céu e anunciar que o Reino de Deus chegou e que não há nada nesse mundo que nos separe desse amor eterno e imenso. Vejo um Jesus que nem na cruz, sentindo muita dor, dor física e espiritual, não abriu mão de nenhum de nós e nos amou até o fim, sabendo que na Sua ressurreição, todos estariam ali, redimidos e salvos pelo Seu precioso sangue.

E na igreja é assim, ou pelo menos deveria ser. Um lugar da manifestação da graça de Deus e não um clubinho de senhoras e senhores preocupados com a vida alheia só para ter motivo de se projetarem e dizerem a si mesmos: “como eu sou bom”. Vejo na igreja hoje um lugar para cada doutor e lixeiro, padeiro e juiz, andante e advogado. Há lugar para todos os cansados e oprimidos porque Ele é o único capaz de descarregar todas as dores e transformá-las em pedras preciosas para construirmos uma bela estrada até o céu.

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