quarta-feira, 22 de abril de 2009

Medo de Sentir Medo!


Teve uma noite dessas aí que eu acordei muito chateado. Tive um daqueles sonhos que a gente quer esquecer assim que acorda. Sonhei que eu estava sozinho e que muita coisa havia mudado. Não era amigo dos meus amigos, meus pais eram outros, minha esposa era feia de morrer; tudo estava um caos pra mim, mas não para as pessoas que me rodeavam. Para elas estava tudo normal. Nesse momento senti um frio na barriga que todo mundo sente quando percebe que perdeu alguém ou algo muito querido e próximo; senti medo.


Uma vez eu perguntei para mim mesmo se sentir medo era pecado. Até agora não obtive resposta substancial para esse pergunta, mas consegui entender algumas coisas a respeito desse sentimento que tantas vezes faz o ser humano cometer loucuras, ou simplesmente faz o sujeito não ter reação nenhuma.


Quando a gente tem a sensação de que alguma coisa está se acabando e a gente é apegado demais a isso, muitas idéias de como ainda segurar esse algo com a gente surgem. Coisas muitas vezes absurdas e outras, bizarras até.


Confesso que tenho um medo comigo quase que mortal. Coisa de me deixar muitas vezes pensando no acontecimento e eu simplesmente deixo de viver o presente por causa desse medo. E pior. Sinto medo de sentir esse medo. Esse medo a que me refiro é o medo de perder os meus pais. E conversando com algumas pessoas, percebi que esse medo, esse pavor impensável, também rodeia a mente delas.


E acredito que muitos que estão lendo esse texto estejam sentindo o mesmo que eu. Esse negócio parece que persegue por onde a gente anda. Não dá sossego, não dá segurança, não tem como dormir a noite, às vezes. Quando vejo o tempo passar, tenho que admitir que o medo aumenta gradativamente. Não é só esse medo. Tenho vários outros que não caberiam aqui descrevê-los e nem relatá-los.


A pergunta que não quer sair da nossa cabeça é: “Como enfrentar esse furacão que, quando chega, arrebenta com a nossa vida?”. Primeiro a gente precisa aceitar que não é fácil lidar com o nosso medo. Seja ele qual for! Quando o medo entra na nossa história e se materializa, quando ele encarna e toma forma visível e palpável, quando ele de fato deixa de ser um pensamento e torna-se agora uma realidade a gente precisa tomar algumas decisões sérias.


Falar sobre medo tem que ser com gente que também sinta medo. Estou cansado dos pastores e dos crentes que são super-heróis. Não têm medo de nada, não têm problemas, não têm crises. São super humanos que nem Stan Lee pensaria que existisse. Até os heróis dos quadrinhos e dos contos têm seus problemas, crises e medos.


Outro detalhe importante é que a gente precisa admiti-los. Eles existem, gente! Estão nos perseguindo e nos atormentando. Fazem a gente tomar decisões precipitadas e nos deixam envergonhados diante de uma frustração que poderia ser evitada.


Tem gente que tem medo de se frustrar. E qual o problema? Nenhum! Tem gente que tem medo de barata? E qual o problema? Nenhum! Tem gente que tem medo de falar em público. E qual o problema? Nenhum! O problema não está em termos ou não medo de algumas coisas, o problema está em não querermos assumir que eles existem. Assim que admitimos a existência dos mesmos, passamos a encarar a vida de forma diferente. Tornamo-nos mais sensíveis às necessidades de quem está em nossa volta. Conseguimos ver o que o outro está vendo, sentir o que o outro está sentindo, temer o que o outro está temendo.


A Bíblia tem 366 “Não temas” em seu conteúdo. Um para cada dia do ano, incluindo o bissexto. Quando a Bíblia fala que não devemos temer, ela não está dizendo que estamos pecando pelo fato de ter medo. Ela está dizendo que o medo existe, mas que não podemos ser dominados por ele; ainda que seja algo extremamente forte, profundo, sentimental.


Ele também diz nessa frase, de duas palavras, que um dia a gente terá que enfrentar esse medo e que é pra gente não ter medo do medo. Significa que o medo virá, a gente vai ter que enfrentá-lo, em um dia ou no outro, e também diz que é pra gente confiar n’Aquele que é maior que nossos medos; Jesus de Nazaré.


Cristo sentiu medo. Nos últimos momentos de Jesus com os discípulos, Ele disse que a Sua alma estava aflita até a morte, ou seja, estava com medo, afligido. Ele chorou, suou água com sangue, sofreu, mas enfrentou mesmo sabendo que a vontade de ficar livre daquilo não era possível, não era viável. Foi para o Calvário sabendo que a dor seria grande, mas o final de tudo não seria ali. No terceiro dia, o Mestre ressurgiu em glória e força para destronar todo e qualquer tipo de medo.


A gente sente medo. A gente treme na base, perde o chão, fica desarmado e pensa nas coisas mais absurdas e loucas possíveis. Mas Cristo, esse Jesus que às vezes você nunca deu atenção e vive fazendo piadinhas, diz que nesse mundo a gente teria aflição; isso mesmo, medo; mas que a gente tivesse bom ânimo; o mundo foi vencido por Ele. Que mundo é esse? É esse mundão aí que você vive, cheio de alegrias, tristezas, sucessos, fracassos, boas e más notícias, cheio de pessoas boas e más, cheio de indiferença e de desconfiança, cheio de malandragem e de bondade, cheio de medos e de gente medrosa. Esse mundo não é maior que o seu Criador! A criação se submete ao Eterno que, de fato, não tem medo de nada e nem de ninguém.

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