domingo, 7 de março de 2010

Duas Milhas!


Uma das coisas mais complicadas de ser discípulo de Jesus é perdoar. Confesso minha dificuldade nessa área tão sensível e primordial para aquele que decidiu pelo caminho estreito. Imaginem perdoar o cara que maltratou sua irmã, ou aquela senhora que espanca seu filho com meses de vida, ou aquele estuprador inescrupuloso que invade sua intimidade e fere seu ente mais querido. Mexer com quem a gente ama não é bom negócio, não é verdade?

Eu me deparo com o Sermão do Monte e me sinto em um conflito interior violento. Sinto meus sentimentos borbulhar diante do tamanho do desafio que é ser discípulo de Cristo. Por uma intervenção única divina, acabei por ser atraído por esse caminho desafiador, revolucionário e libertador. Mas o perdão me incomoda. Por que perdoar? Por que sentir amor e não ficarmos somente satisfeitos com a justiça inflexível onde nada acaba ficando “de graça”? Por que orar por aqueles que querem ver minha queda e vão festejar caso ela ocorra? Isso sempre me incomodou!
As peças literárias mais conhecidas, as lendas mais veneradas trazem heróis que se vingam, acabam cometendo justiça e não perdão. Mostrar perdão no mundo de hoje é sinal de fraqueza e falta de esperteza. Por isso que me incomoda!

Sejamos sinceros! Não queremos ficar sozinhos nessa barca aparentemente furada, não queremos ser taxados de perdedores e nem de fracassados, não queremos dar a impressão que somos manipuláveis, mas acabamos percebendo que já estamos sendo manipulados pelas idéias e filosofias desse mundo onde cada dia o amor se esfria mais.

No Sermão do Monte, o Mestre pede que andemos duas milhas com nosso inimigo quando ele pedir para que andemos apenas uma. Seria mais fácil se Cristo dissesse que quando o inimigo pedisse que andássemos com ele uma milha, teríamos a liberdade de darmos uns bons socos na cara desse inimigo. Mas não foi assim. Não foi assim por uma razão.

Cristo quer que revolucionemos nosso mundo com atitudes simples, humanas, permeadas com um senso de justiça onde o réu confesso sai perdoado do tribunal. A lei do Reino não é apedrejamento; é cura, acolhimento e tratamento. Muitas vezes o tratamento dói, machuca, acaba em muitas ocasiões nos expondo; outras vezes, ele acaba sendo muito íntimo, muito próximo, mas mesmo assim sentimos dor. Dor porque muitas vezes também foi sem querer, acabou acontecendo, fugiu do nosso pseudo-controle. Aí nos perdemos e pensamos que é o fim. De repente nos pegamos com depressões profundas e desgastantes. Achamos mesmo que estamos no fim.

O perdão me incomoda porque me faz andar pra frente. O futuro sempre traz medo, insegurança, desconfiança. Mas o nosso futuro nas mãos de Cristo nos traz força, esperança e fé. O perdão nos incomoda porque nos expõe, faz a gente perceber que podemos cometer os mesmos erros que todo mundo e precisar pedir para que o outro ande conosco mais duas milhas. Mas o perdão também é liberdade, faz a gente andar quantas milhas quiser com quem quer que seja, porque a gente sabe que vai precisar de gente lá na frente que ande pelo menos duas milhas com a gente.

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