Talvez nesses poucos anos de ministério já posso dizer que tenho experimentado coisas que jamais pensei em experimentar. Pessoas que você confia tanto ou põe uma confiança tal e que no final das contas se mostram seres humanos falhos como qualquer outro. Mas se o problema fosse esse, posso garantir que teríamos menos igrejas e mais cristãos. O problema é mais grave do que se imagina: nós ficamos acostumados e indiferentes a essas situações. Acostumamo-nos com a injustiça e com o descaso. Alimentamo-nos todas as manhãs com o café da manhã do individualismo e tomamos o leite azedo do descaso para com o próximo.
O problema, talvez, no meu ponto de vista, é a institucionalização da igreja. Ela não mais tratada como um lugar onde se encontra paz e refrigério. Ela é quase uma empresa agora, com seus executivos e publicitários encontrando meios quase que mirabolantes de ter mais gente nos seus cultos. Não importa se aquela pessoa vai se tornar um membro da igreja, interessando-se pelos ensinos da Bíblia; isso não importa. Mesmo que importasse, quanto mais gente e número no final do ano para garantir mais um ano de salário, está bom demais! Encaro dessa maneira: se a igreja é como uma empresa, você e eu somos um produto a mais um produto na prateleira da fé.
Tudo isso e mais um pouco faz parte do cotidiano cristão atual. A vida do outro se torna mais importante e interessante quando tem algo de muito errado acontecendo com ele. Entretanto, o assunto não se desenvolve convidando as pessoas para orar ou coisa do tipo, mas sim, torna-se o assunto da semana, do mês e ai daquele que ainda não ouviu o grande “bafão” da semana.
Fiquei me perguntando nesses dias se realmente a igreja é realmente o hospital das almas perdidas e machucadas. Observei que alguns doentes não conseguem marcar consultas por conta da correria do dia a dia. E quando conseguem e expõe o seu problema, o conselheiro diz que é “falta de fé” e é considerado quase que um caso perdido. E aqueles que estão na liderança? Esses então podem pedir demissão porque não há lugar para gente “doente”.
Mas quando olho para a cruz vejo espaço suficiente para todos. Vejo um Jesus que não abre mão da companhia dos pobres de espírito e daqueles que choram porque eles são chamados de bem-aventurados. Vejo um Cristo que clama pela presença dos cansados e sobrecarregados para lhes conceder descanso e alívio.
Mas daí, voltemos a Igreja. Aquela que seria a representante desse mesmo Cristo na terra. Está aí a grande decepção de tanta gente, o cansaço de tantos líderes e o motivo de piada em tantos meios de comunicação.
A Igreja somos nós. Pessoas imperfeitas e naturalmente pecaminosas. Mas Cristo nos convoca a sermos diferentes, total e essencialmente revolucionários no sentido do comportamento humano diante de situações onde a maioria abandonaria e pularia fora do barco. Não haverá hospital na igreja enquanto não houver gente disposta a transformar-se em médicos e pacientes. Não haverá igreja como hospital de almas enquanto a própria igreja não abraçar e acreditar nessa afirmação.
Igrejas são feitas por pessoas. A transformação precisa acontecer nas pessoas, no coração de cada membro, de cada jovem, de cada adolescente, de cada adulto, de cada líder.
Igrejas são feitas por pessoas. A transformação precisa acontecer nas pessoas, no coração de cada membro, de cada jovem, de cada adolescente, de cada adulto, de cada líder.
Estou cansado de encontrar por aí pastores e líderes super heróis. Aqueles invulneráveis que tem a fé de mover montanhas, mas não conseguem abalar um centímetro do coração angustiado do ouvinte que o atura todos os domingos nos púlpitos dos domingos.
Se a igreja hoje é um hospital para almas eu não sei afirmar, porque os corredores estão lotados, os atendimentos estão a desejar, e os médicos só atendem das nove às onze horas.
Como podemos afirmar que a igreja é o hospital sendo que um homosexual não tem lugar? Como podemos afirmar que a igreja é o hospital das almas sendo que um andante fedendo a pinga é convidado a se retirar para não atrapalhar o “culto a Deus”? Como temos coragem de afirmar que a igreja é um hospital de almas onde o principal motivo de adoração se fez homem e há tantos homens querendo ser Deus?
Quando leio minha Bíblia, que é a mesma que a sua, leitor, abre diante dos meus olhos uma realidade revolucionária para esse mundo. Vejo um Jesus abraçando prostitutas e fazendo descaso de religiosos inescrupulosos que tramam nas caladas da noite e pela manhã vestem uma túnica de uma pseudo-santidade. Vejo Cristo comendo, que era uma demonstração de intimidade ou do desejo desta, com publicanos e pecadores, os mais miseráveis da sociedade, os marginalizados e excluídos. Jesus disse que estes entrariam primeiro no reino de Deus do que aqueles que achavam que eram donos e intérpretes da Verdade. Vejo um Jesus que entende o peso e o julgo quase que mortal de uma religião fétida e injusta e convidando todos esses oprimidos a se deleitarem em sua suavidade e leveza como Redentor. Vejo um Jesus que cura não por ganância ou por fama e dinheiro, mas por amor e para confirmar que Ele é de fato o filho de Deus encarnado. Vejo um Cristo que ama andar com aqueles homens inconstantes que ele chamou para serem discípulos; ensinando-os a serem de fato homens de verdade e anunciadores dessa verdade. Vejo um Jesus da graça que não mede esforços para cumprir a vontade do Pai do céu e anunciar que o Reino de Deus chegou e que não há nada nesse mundo que nos separe desse amor eterno e imenso. Vejo um Jesus que nem na cruz, sentindo muita dor, dor física e espiritual, não abriu mão de nenhum de nós e nos amou até o fim, sabendo que na Sua ressurreição, todos estariam ali, redimidos e salvos pelo Seu precioso sangue.
E na igreja é assim, ou pelo menos deveria ser. Um lugar da manifestação da graça de Deus e não um clubinho de senhoras e senhores preocupados com a vida alheia só para ter motivo de se projetarem e dizerem a si mesmos: “como eu sou bom”. Vejo na igreja hoje um lugar para cada doutor e lixeiro, padeiro e juiz, andante e advogado. Há lugar para todos os cansados e oprimidos porque Ele é o único capaz de descarregar todas as dores e transformá-las em pedras preciosas para construirmos uma bela estrada até o céu.
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