Já na antiga Grécia se falava sobre essas figuras patéticas. Platão, no seu livro A República, os chamava de “mendigos e adivinhos”, gente que manipulava a fé dos gregos nos deuses para fins lucrativos, e ao mesmo tempo a própria população grega os usava para tentar ludibriar ou subornar os deuses com oferendas e sacrifícios. Creio ser de uma indelicadeza de Platão chamar gente tão mesquinha de “mendigos”. Talvez ele tenha pensado que eles estavam “mendigando” honrarias e prêmios.
O tempo passa, o mundo sofre transformações gigantescas, mas percebe-se que o homem continua o mesmo. Suas carências, necessidades e desejos estão presentes em todas as eras e impérios; e junto disso aparecem em cena os famosos aproveitadores que tentam, com algum sucesso, manipular corações atribulados com o fim de glorificar apenas um deus: eles mesmos. Há líderes religiosos na televisão e na rádio, tanto na nossa região como no nosso país e no mundo que dizem servir a Deus, mas são amantes das riquezas. Sua aliança não é com a Cruz, é com o seu e o meu bolso. Enquanto você compra as toalhinhas da cura, recebe os abraços da prosperidade, paga os horários caríssimos do canal de televisão, você é boa gente; se não, você está em pecado e muito provavelmente não tem fé e, portanto não tem a benção de Deus. Ah, faça-me o favor!
Gente desse porte Jesus chama de “falso profeta”. Tudo que eles dizem Deus não mandou dizer. Tudo o que eles profetizam Deus não profetizou. Tudo o que eles pedem Deus não pediu. Tudo o que eles manipulam Deus vai prestar contas. Outro nome dado a eles é de “sepulcros caiados”, ou seja, túmulos bonitos e bem ornamentados por fora, mas por dentro só carregam mau cheiro, carne podre e morte. Se não há vida nesses “profetas”, como podem falar sobre a vida? Como podem ensinar a viver? O que eles ensinam são morte e desesperança. Nada do que podemos fazer, dizem eles, pode acalmar o coração de Deus. Por isso a necessidade de sempre “ofertar” a Deus nosso dinheiro, posses, riquezas, coisas e nunca o coração. Para esses ladrões da alegria e da fé, o coração não basta. Entendam isso: nada do que podemos fazer, ou para mais ou para menos, fará Deus nos amar mais ou menos. Ele nos ama pelo que somos, e não pelo que podemos fazer por Ele ou para Ele. Os manipuladores existem porque tem gente que insiste em manipular a Deus.
Mas ainda restam aqueles que não seguem essa maré. São artistas, palhaços e andarilhos que não se vendem e não compram escravos. Pelo contrário, por onde passam causam um fantástico reboliço na vida da gente trazendo alegria e a experiência da verdadeira liberdade. Palhaços nos avisam todos os dias: “Como a graça de Deus nos faz felizes e seres humanos melhores”. Andarilhos nos lembram como é importante amar as pessoas e usar as coisas e não amar as coisas e usar as pessoas. Os artistas nos fazem imaginar pessoas vivendo em paz, sem disputas religiosas e de poder e nos fazem acreditar que dias melhores ainda podem vir. Esse tipo de gente Deus tem amizade e intimidade. Escutem o que eles têm pra dizer, pode ser que o próprio Deus esteja querendo aumentar o número de amigos.